“A bela e o monstro”

As imagens científicas tendem a ser, por imperativo comunicacional, objectivas, claras e monossémicas, isto é, possuírem uma única leitura. Mas, como imagens que são, possuem outros atributos que envolvem o restrito rigor da comunicação científica, acrescentando à imagem uma mais valia, um poder especial de atração do nosso olhar.

O pensamento (e a civilização) ocidental revê-se e constrói-se arquetipamente sobre a estranheza das dualidades, sobre os conflitos dos opostos mas também nas atrações dos contrários, na unidade e complementaridade das dicotomias. A vida e a morte (eros e thanatos), o corpo e a mente, o bem e o mal, a matéria e o espírito, a forma e o fundo, o belo e o horrível, são exemplos de termos que, sendo opostos, se fundem e confundem numa tensão comum. Na presença dos opostos, cada elemento potencia as suas caraterísticas no confronto com o outro, necessitando cada um da presença do outro: assim são inseparáveis e assim coexistem. Assim é o mundo.

Esta é uma fotografia que mantem os atributos de objectividade da imagem (centralidade do enquadramento, iluminação cuidada, eficácia da focagem, clareza descritiva) mas que realça à nossa percepção esta conjugação indivisível dos contrários: o opaco e o transparente, o rugoso e o polido, o brilhante e o turvo, a cor e a sua ausência, o escuro e o claro, as formas complexas e as formas simples, o irregular e a geometria.

Tanta tensão e complexidade numa imagem aparentemente tão “simples”.

Mário Bismarck
Belas Artes / Universidade do Porto



Quando me falam em resina vem-me de imediato à memória a imagem de pinheiros no tronco dos quais tinham sido inseridas, através de um corte (ferida), pequenos “púcaros” de barro onde se acumulava resina que brotava dessas plantas. Essa imagem, tão comum nos pinhais desde o final do século XIX até ao final dos anos 70 do século passado (quando Portugal era o segundo maior produtor mundial), era a da então designada resina-de-pinheiro.

No entanto, a resina não é exclusiva das Gimnospérmicas arbóreas conhecidas como Coníferas, podendo ser encontrada noutras espécies, incluindo angiospérmicas, nomeadamente em Myroxylon sp., Pistacia lentiscus (lentisco ou aroeira), Acer sp., etc.

A resina da imagem é a resina de um pinheiro, que é a mais procurada para fins industriais e químicos, de onde se pode obter a aguarrás e o pez os quais podem ser usados na produção de inúmeros produtos e seus derivados, tais como: colas, gomas, graxas, lacas, terebentina, vernizes, etc.

Mas o que é então a resina? Trata-se de um líquido mais ou menos viscoso, em geral transparente e muito pegajoso, quase sem cor podendo ir até um amarelo acastanhado, de cheiro característico, que árvores resinosas, como os pinheiros, produzem no seu interior quando sofrem algum dano ou ferida no tronco.

Estes fluidos, compostos por terpenos e seus derivados (incluindo óleos e álcoois), são produzidos naturalmente, em canais resiníferos, isto é, em tecidos secretores intercelulares onde se acumulam, tendo por missão selar feridas e impedindo os ataques de fungos e de insectos fitófagos.

A resina mais famosa será o designado Âmbar, uma pedra semipreciosa. Composta por resina vegetal fossilizada proveniente de restos de coníferas e de algumas angiospérmicas.

Rubim Almeida Silva
Ciências / Universidade do Porto