Peso
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- Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
Referência Araújo, M., (2014) Peso, Rev. Ciência Elem., V2(2):156
DOI http://doi.org/10.24927/rce2014.156
Palavras-chave Peso; Terra; movimento; uniforme; aceleração;
Resumo
O peso de um corpo na superfície da Terra pode ser definido operacionalmente como a força que este exerce sobre um dinamómetro, estando os dois em repouso ou em movimento uniforme relativamente à Terra, e em repouso entre si. Uma definição análoga pode ser escolhida noutros planetas. Esta força é proporcional à massa do corpo e à aceleração de queda livre no local onde se encontra1:
→P=m→g
Apesar de ser muitas vezes identificado como a força gravítica exercida pela Terra sobre o corpo, isto não é verdade. Como a Terra está em rotação, é um referencial não inercial, e os corpos à sua superfície estão sujeitos a forças inerciais, nomeadamente uma força centrífuga. Por esta razão, a aceleração de queda livre, →g, não é o valor da aceleração devido apenas à gravidade, mas leva em conta o efeito centrífugo, pelo que é necessário especificar a latitude do local onde estamos a determinar o peso de um corpo. Esta aceleração não leva em conta efeitos como a resistência do ar, pois pode assim ser medida localmente através de experiências de queda livre num tubo de vácuo.
O peso normal de um corpo é definido como o produto da sua massa com a aceleração normal de queda livre:
→Pn=m→gn
A aceleração normal de queda livre tem o valor gn=9,80665ms−2, e é um valor médio das acelerações locais. O peso normal é simplesmente a definição de peso usualmente empregada, dado que na maior parte dos problemas a correcção devido à variação da força centrífuga com a latitude é desprezável.
Força centrífuga
Certamente que o leitor, ao descrever uma curva dentro de um carro, experimentou uma "força" que o empurra para o "lado de fora" da curva. Contudo, para um observador exterior ao veículo, num referencial inercial, tal força não existe e, para este observador inercial, o carro descreve a curva porque a força de atrito entre os pneus e o piso permite mudar a direcção da velocidade, acelerando-o centripetamente. No entanto, para quem está no referencial do veículo, existe a força centrífuga que deve ser considerada se se pretende estudar o movimento no referencial ligado ao carro. Tal força aparece unicamente porque o seu referencial ligado ao carro não é inercial, e é devida à inércia do corpo. O caso que acabamos de descrever ocorre também para qualquer corpo na superfície da Terra uma vez que esta tem movimento de rotação.
Consideremos um corpo na superfície da Terra, sujeito à força gravitacional, →Fg , e à força centrífuga, →Fc , como está ilustrado na figura 1. O ângulo ϕ representa a latitude do local onde se encontra o corpo. No que se segue, e por simplicidade, consideraremos a Terra com a forma esférica.

Podemos estimar o valor da força centrífuga, considerando a seguinte equação:
→Fc=−m→ω×(→ω×→R)
O vetor velocidade angular de rotação da Terra, →ω é um vetor que tem a direção do eixo de rotação da Terra. Seja →R o vetor de posição do corpo em relação ao centro da Terra, cujo valor é igual ao raio da Terra, RT . O valor da aceleração centrífuga é:
ω2RTcosϕ
A velocidade angular da Terra tem valor 2π24∗60∗60=7.272×10−5rad.s−1, e o raio médio da Terra RT=6371km. Com estes valores é possivel determinar o valor da força centrífuga que atua no corpo para diferentes latitudes. Consideremos apenas a latitude do Pólo Norte, a latitude média de Portugal, e do Equador, para os quais temos ϕ = 90º, 39º 30' e 0º, respectivamente. Utilizando os valores anteriormente apresentados, o valor da aceleração centrífuga:
FcPN=0ms−2
FcPT=0.0259ms−2
FcE=0.0337ms−2
A diferença entre os valores da força centrífuga para o Equador (onde é máxima) e para Portugal corresponde a apenas 2% da aceleração normal, pelo que se justifica que nos problemas do quotidiano seja desprezada..
Vertical
É também fácil inferir que a nossa noção de vertical, a direção definida por um fio de prumo, ou a direção normal à superfície de um líquido em repouso, não é a direção do diâmetro que passa no local onde nos encontramos, mas sim a direção definida pelo peso, levando em conta o efeito da força centrífuga. Um exemplo claro deste efeito é fazer plantas crescer sobre uma base rotativa, a uma velocidade angular elevada. Estas irão crescer "para dentro", fazendo um ângulo com a vertical local. A direção de crescimento da planta em rotação define a vertical no sistema em rotação.
Referências
- 1 Norma ISO 80000-4:2006. Pode ser consultada em Almeida, Guilherme de, "SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI): GRANDEZAS E UNIDADES FÍSICAS - Terminologia, símbolos e recomendações", p. 90, 3ª ed., Abril 2002, Plátano Editora.
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