As novidades centraram-se na construção de linhas de formação na área das Tecnologias da Informação e da Introdução às Ciências, que tornaram possível aos professores, quer do primeiro e segundo ciclos, quer da educação pré-escolar, bem como aos das TIC/Informática, definirem os seus percursos formativos próprios, de modo claramente específico.

Figura 1. Sessão de abertura do IV Encontro Internacional Casa das Ciências.

Uma outra grande novidade foi a criação de “linhas” específicas de formação, ou seja, cada professor, dentro da sua área de especialização, poderia, se assim o desejasse, assistir e participar num conjunto de atividades claramente específicas da sua área de formação e lecionação.

As nuances foram as mais de três mil horas de formação disponibilizadas, que permitiram essa escolha dos participantes, estruturadas numa lógica organizativa abrangente e flexível. Tivemos ao longo dos três dias de formação, 10, 11 e 12 de julho, nas instalações da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, plenárias, painéis, comunicações e workshops, distribuídos por mais de uma centena de atividades distintas.

Figura 2. Os oradores da três grandes plenárias (da esquerda para a direita): Daniel Bessa, Henrique Leitão e Pedro Gil Ferreira.

Importa também referir que este IV Encontro se realizou no enquadramento da parceria que a Casa das Ciências fez com o EDULOG, da Fundação Belmiro de Azevedo, no sentido de garantir a continuidade de um trabalho que já ganhou consistência ao nível da educação em Portugal e que acrescenta valor ao trabalho desenvolvido pelo EDULOG.

Cada um dos três dias teve uma grande plenária com uma temática de interesse e utilidade para todos os participantes e que trouxe algo de novo ao pensamento docente. O economista e ex-ministro da Economia, Daniel Bessa, o investigador/historiador da Ciência e Prémio Camões, Henrique Leitão e o físico português da Universidade de Oxford, Pedro Gil Ferreira, foram os conferencistas escolhidos para estas palestras de grande audiência, que se revelaram de exceção. Apropriando-me da expressão feliz de um dos participantes “… estavam mais de oitocentas pessoas no auditório, talvez umas cem fossem matemáticos, só se falou de matemática e no fim toda a gente aplaudiu com enorme entusiasmo…

A realidade observada no local, e todo o retorno que tivemos da grande maioria dos participantes, deixam-nos concluir que quando os conferencistas são desta qualidade, a linguagem que falam é universal e compreendida por todos. Foi uma aposta ganha.

Figura 3. Workshop «Luz e Cor».

Houve treze plenárias disciplinares, distribuídas por dois dias e em paralelo. Escolhemos personalidades muito relevantes de cada uma das áreas, e o número de participantes que assistiu, bem como as apreciações que mais tarde se foram fazendo, fazem-nos acreditar que esta é uma solução para manter, pois para além de raramente existir a possibilidade de se poder assistir a palestras desta qualidade, a escolha pode ser feita em termos do interesse de cada um e não apenas pela indicação da área disciplinar. Digo isto porque, por exemplo, nas plenárias das Tecnologias tivemos sempre muito mais pessoas a assistir do que o número de participantes daquelas áreas que se tinham inscrito previamente. Isto revela, por um lado, que a problemática das TIC é ainda hoje um fator de enorme interesse no mundo da educação, e por outro, que perceber o fenómeno da evolução tecnológica dentro dos sistemas educativos e usar as suas nuances e possibilidades ao nível da sala de aula, ainda precisa de muito trabalho, investigação e debate. Estaremos atentos, naturalmente. Nestas plenárias tivemos investigadores, professores e especialistas das Universidades de Coimbra, Porto, Lisboa, Évora e Aveiro. Os painéis, dez ao todo e onde intervieram no conjunto 56 personalidades, tiveram duas temáticas diferentes e perfeitamente atuais. Na primeira série, seguimos o tema geral do encontro, “A Ciência e o Desenvolvimento”, tendo os debates, com alguma naturalidade, sido alargados ao público presente, dada a inovação e a premência trazida pela qualidade dos participantes. Teve um papel fundamental na preparação destes painéis a Comissão Editorial da Casa das Ciências que, para cada área temática e para cada tema específico em particular, teve sempre a capacidade de sugerir os melhores especialistas, que tinham efetivamente algo a dizer com qualidade e rigor. A segunda série, que decorreu no último dia do encontro, foi dedicada, por sugestão da Comissão Organizadora da FCUL, ao debate em torno dos manuais escolares, o seu rigor, a sua pertinência e interesse e mesmo a sua necessidade em tempo da digitalização global da informação. Como seria de esperar em temática tão sensível, a polémica nasceu com alguma facilidade, embora sempre com uma troca de opiniões sã e equilibrada. Quem assistiu, saiu da sala com mais informação e com uma visão mais alargada e, sobretudo, mais aberta dos problemas discutidos.

Figura 4. Workshop «À descoberta do ambiente natural».

Os workshops são sempre o ponto alto, por permitirem uma forte interação em grupo de trabalho reduzido. Foram mais de 40, distribuídos por duas tardes praticamente integrais, permitindo a cada participante “estar” em cerca de oito horas de formação de “mão na massa”, isto para um total de 26 horas por cada participante. A expressão “mãos na massa” ilustra na perfeição o formato que cada vez mais tem vindo a estar presente nestas atividades ao longo dos anos. Apenas meia dúzia, e falo de meia dúzia de seis, tiveram um cariz mais teórico. Os restantes, mesmo os das tecnologias, os das matemáticas, os da Introdução às Ciências, ou foram laboratoriais ou de manipulação de materiais e experimentação em concreto. Alguns houve mesmo que “saíram” do espaço físico onde decorreu o Encontro para que a sua realização tivesse as condições operacionais que pudessem colocar toda a gente a “trabalhar”. Do retorno que obtivemos, os professores, na sua generalidade, “reclamam” mais e mais workshops. Não prometemos para o futuro que isso irá de certeza acontecer, apenas que faremos os esforços nesse sentido. Mas é bom que se compreenda que as questões logísticas que acarretam um sobredimensionamento neste formato, são uma condicionante muito forte. Nomeadamente em áreas científicas que, por norma, precisam de laboratórios para poderem realizar as suas tarefas de forma eficaz.

Figura 5. Workshop «Entomologia Forense».

Não há nenhum encontro sem comunicações. E neste, tivemos 61, das quais 21 em formato poster. Confesso que numa fase inicial da preparação do IV Encontro, tive algumas reservas quanto à dimensão e qualidade das comunicações que iriamos ter. Depois, foram surgindo, do Algarve, do Rio de Janeiro, dos politécnicos, das universidades portuguesas, da RBE, de colégios, de Niterói, das escolas, de São Paulo, dos centros de investigação etc., etc. e percebi, de forma clara, que os Encontros da Casa das Ciências passaram a ter, quer em Portugal, quer nos países de expressão portuguesa, um outro ponto de referência. Passou a ser um local privilegiado para que os professores e investigadores em Ciência que se dedicam às questões da educação nesta área, pudessem “mostrar” o seu trabalho, as suas experiências, as suas investigações. Neste Encontro, tivemos mais de uma centena de pessoas envolvidas na apresentação de comunicações, com a particularidade de, nalguns casos, as salas serem demasiadamente pequenas, onde mal couberam todos os que quiseram assistir, e, noutros casos, a experiência ter mesmo “descido ao terreno”, literalmente, com alunos e tudo.

Em síntese, três dias de formação séria, de extrema qualidade, com algumas das maiores referências em cada uma das áreas científicas focadas e, por fim, mas não menos importante, com um trabalho real de cada participante centrado na sua aprendizagem, de forma construtiva.