Há pouco tempo fui chamado a manifestar-me sobre estes assuntos numa tese de doutoramento que versava, precisamente, este tema. Como é natural, não há consenso! Os vários colegas presentes mostraram visões muito distintas. No entanto alguns tópicos enumerados e postulados por um dos colegas que participava nessas provas que são a meu ver muito importantes:Bom Senso e Atitude. Isto porque todos concordámos que muito do sucesso e insucesso destas apresentações muitas vezes “bombásticas” estão fortemente dependentes de “quem” as transmite. Deverá ser uma pessoa com fortes conhecimentos nos assuntos versados, com “bagagem” para mostrar que a Ciência não é imutável e evolui todos os dias, que consiga interligar assuntos de um modo holístico, e finalmente que tenha capacidade de pedagogicamente levar os assuntos versados a bom porto... deixando o bichinho do “e se não é assim?” nos seus ouvintes.

Em minha opinião, e até ao momento, o Bom Senso e a Atitude têm estado presentes na Casa das Ciências. Quer nos nossos encontros, que fazemos periodicamente, quer na nossa revista, no meu modesto entender, o balanço tem sido equilibrado. Mas este equilíbrio muito precário e vulnerável pode ser quebrado a qualquer instante... Basta que apareça a tentação de irmos um bocadinho mais longe e lá se perde o Bom Senso e a Atitude. Mesmo para os colegas dos ensinos básico e secundário este ponto deve ser mantido e considerado como MUITO IMPORTANTE que deve estar sempre presente no espírito de quem contribui para a Casa. Sempre fui muito crítico em relação ao nosso tipo de ensino, e falo principalmente da Geologia. Os assuntos tratados ao longo dos ensinos básico e secundário são uma espiral em passo curto...assim, desde o básico até ao final do secundário e ao primeiro ano da faculdade, alguns assuntos ligados aos Produtos e Processos Geológicos são ensinados com pequenas alterações e incrementos na complexidade. Esta metodologia provoca nos alunos do 1º ano das licenciaturas em Geologia um sentimento de “oh não...outra vez!?” que os desmotiva bastante.

Esta minha reflexão não tem uma solução imediata, nem era esse o propósito destas linhas. Quero apenas expressar que deveremos todos, na minha modesta opinião, os intervenientes desta aventura da Casa, refrear moderadamente os ímpetos de publicar, referir e propagar assuntos que mesmo entre os especialistas não estão “cimentados” e alicerçados em estudos já testados e creditados, com referências estatisticamente bem ponderadas e principalmente já bem compreendidas por alguém... A fugaz moda ou “tendência de moda” em Ciências pode ser perigosa e contraproducente. Dou para finalizar um exemplo. Não considero que as séries temporais e estatísticas utilizadas hoje em dia (desde o início da Revolução Industrial até à Atualidade) para qualquer dos estudos de tendência climáticos, geológicos e atmosféricos, tenham alguma credibilidade ao nível dos acontecimentos que se fazem sentir no nosso planeta... os aquecimentos globais, etc.. Estes fenómenos fazem-se sentir ao nível do planeta há muitos MILHÕES de anos... basta ter um pouco de conhecimento ao nível dos Ciclos de Carbono e à produção de calcários desde o Paleozoico até à Atualidade... a única grande diferença é que neste “terceiro calhau a contar do Sol”, agora vive um bicho – o Homo “por vezes pouco” sapiens.