Paisagens geológicas e cenários singulares
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- * Geopark Naturtejo da Meseta Meridional
- ɫ Geopark Naturtejo da Meseta Meridional
Referência Rodrigues, J., Carvalho, N.T., (2015) Paisagens geológicas e cenários singulares, Rev. Ciência Elem., V3(4):045
DOI http://doi.org/10.24927/rce2015.045
Palavras-chave Geopark; Naturtejo; UNESCO; Portugal;
Resumo
O Geopark Naturtejo da UNESCO, no Centro de Portugal, é um território hoje com 5000 Km2, que valoriza um importante património geológico, reconhecido internacionalmente, o qual testemunha a evolução do planeta Terra e permite promover o desenvolvimento sustentável da região, através de projetos de conservação, educação e de turismo de Natureza. O recém-criado Programa Geoparques Mundiais da UNESCO, iniciado no passado mês de novembro em Paris, assenta no desenvolvimento sustentável ao nível da geodiversidade, do ambiente, do uso dos recursos naturais, do combate às alterações climáticas, da gestão dos riscos geológicos, do envolvimento das comunidades e da preservação dos patrimónios dos geoparques.
O Geopark Naturtejo é um território de sensibilização,
de ensino e aprendizagem para todos: comunidades
locais, cientistas, alunos e professores, turistas. A Geodiversidade,
traduzida em 600 milhões de anos de histórias que
incendeiam a imaginação, é o substrato e o mote para infinitas relações
com o património natural e cultural. As paisagens
geológicas, os geossítios e os geomonumentos são os cenários do Geopark
Naturtejo para promover e aprender com o
Património Geológico (Neto de Carvalho & Martins, 2006; Rodrigues & Neto
de Carvalho, 2010).
Monte-Ilha de Monsanto
A Meseta Meridional nesta região está profundamente marcada pelos
relevos residuais que vão cortando as vastas superfícies
aplanadas, como as montanhas quartzíticas, os inselberge (montes-ilha)
graníticos ou as formações sedimentares culminantes.
O plutão granítico de Penamacor-Monsanto (Neiva & Campos, 1992) é uma
destas mais impressionantes estruturas, que aflora
numa área de 136 Km2, apresentando uma disposição elíptica, e
que está alojado em xistos e grauvaques do Grupo
das Beiras. Este granito surpreende quando aflora em inselberge
acastelados: Monsanto, Moreirinha e Alegrios,
chegando o de Monsanto aos 758 metros de altitude, erguido mais de 300
metros em relação à peneplanície. A sua instalação
remonta há 310 milhões de anos, já no final da Orogenia Varisca, aquando
da formação de uma cadeia montanhosa que se estendeu
entre os Montes Urais e os Apalaches (América do Norte), quando uma
massa gigantesca de material em estado de fusão se
acumulou no interior da crusta terrestre, com um volume superior a 100
Km3, a uma temperatura de cerca de
700 °C, e que foi arrefecendo lentamente. Os atuais relevos
residuais, que caracterizam a paisagem, surgem de uma longa
etapa de intensa e profunda meteorização química do Maciço Ibérico,
durante o Mesozoico, seguidos de ciclos de
erosão-exumação-sedimentação, durante o Cenozoico, que culminou no
presente com a exposição de uma paisagem entretanto
fossilizada há 50 milhões de anos (Rodrigues & Neto de Carvalho, 2009).
Monsanto exibe uma paisagem singular de Barrocal, designação popular para o caos de blocos, um amontoado só aparentemente aleatório de enormes blocos de granito que a erosão foi modelando e arredondando. Estes blocos correspondem a núcleos de rocha sã, menos alterada, de variados tamanhos e formas, deslocados pela gravidade ou simplesmente expostos devido à remoção do manto de alteração pela erosão das vertentes. Ao longo do tempo o Homem foi gerindo a sua relação quase simbiótica com as rochas de Monsanto, aprendendo a aproveitar os espaços deixados entre blocos pela erosão, numa quase fusão entre o natural e o antrópico da qual resulta uma paisagem ciclópica com um toque de inspiração profundamente humana.
O plutão granítico de Penamacor-Monsanto inclui
importantes geossítios onde é possível interpretar a
formação das rochas e a génese de paisagens graníticas. O caos de blocos
de Monsanto pode ser estudado e contemplado
através do percurso pedestre “Rota dos Barrocais”, uma excelente sala de
aula natural, onde se combinam harmoniosamente
o património geológico e o histórico-cultural. Destaca-se o miradouro
geomorfológico do Castelo templário de Monsanto
de onde se consegue alcançar com a vista praticamente toda a área
territorial do Geopark Naturtejo.
Morfologias Graníticas da Serra da Gardunha
A poente de Monsanto, próximo da cidade de Castelo Branco, localiza-se a
Serra da Gardunha, uma serra pouco conhecida, um
colosso de granito, que se ergue abruptamente sobre o vasto plano, onde
a água domina, correndo à superfície e
infiltrando-se em profundidade (Rodrigues & Neto de Carvalho, 2012). A
água segue uma densa rede de fraturas, alterando
a estrutura cristalina dos minerais que compõem as rochas através de
reações químicas que afetam as plagióclases cálcicas.
Esta alteração química promove uma desagregação lenta das rochas que é
responsável pela transformação da fisionomia da
serra, que foi ao longo do tempo moldando cada forma granítica. O
levantamento da Serra da Gardunha deu-se simultaneamente
com o da Serra da Estrela nos últimos 10 milhões de anos.
No alto da Gardunha a bola granítica com uma fissuração poligonal bem expressiva é uma das rochas mais emblemáticas da serra. As fissuras atingem quase 0,5 m de profundidade, com polígonos bem individualizados numa parede vertical convexa, num fenómeno bastante frequente nesta zona da serra, como se observa também naquilo que se convencionou denominar de Padaria dos Patrícios. A alteração superficial provoca incisões nas paredes verticais do afloramento rochoso, provocadas por contração das placas superficiais. A penetração da água nas fissuras mais jovens promove o avanço deste processo. Outra rocha a destacar é o Bloco Fendido, com cerca de 4 m de altura, e com superfícies de fratura planas, pouco alteradas. Uma das partes, a mais pequena, encontra-se tombada, conferindo legibilidade aos processos genéticos, por insustentabilidade gravítica e rutura ao longo de planos secundários de fraturação. Na área de Castelo Velho é possível observar um grande conjunto de formas associadas à fraturação muito densa (sub-vertical) dos granitos, como os tor, blocos pedunculados, pias, bolas em equilíbrio, entre outras, assim denominadas pelos geomorfólogos, os especialistas na evolução e dinâmica dos relevos.
A Serra da Gardunha é uma área pouco conhecida mas de
grande riqueza geológica, biológica e ambiental,
classificada como Rede Natura 2000 e, mais recentemente como Paisagem
Protegida Regional, que inclui nove geossítios, a
maioria dos quais visitável através do percurso pedestre “Rota da
Gardunha”.
Blocos Pedunculados Arez-Alpalhão
Os blocos pedunculados são as geoformas graníticas mais características
da área aplanada de Nisa. Correspondem a formas de
alteração diferencial, cuja génese se prende com uma desagregação mais
acentuada na base dos blocos devido ao contacto com
saprólitos (granitos alterados em processo de formação de solo)
saturados em água que são responsáveis por este tipo de
alteração basal. Numa segunda fase existe a exumação por erosão
diferencial do pedúnculo. No Geopark Naturtejo estas formas
estão inventariadas não só em Nisa, mas também noutros locais como na
Lousa, Escalos de Baixo, Monsanto, Serra da Gardunha
e Salgueiro do Campo (Rodrigues & Neto de Carvalho, 2013).
Escarpa de Falha do Ponsul
A Falha do Ponsul é um acidente tectónico do Maciço Ibérico, uma das
mais importantes estruturas geológicas que atravessa
o território do Geopark Naturtejo, estendendose por cerca de 85km em
território português, e que se prolonga por Espanha,
atingindo um comprimento total de aproximadamente 120 km (Dias & Cabral,
1989), com orientação geral sudoeste-nordeste.
Esta falha teve origem há cerca de 300 milhões de anos, com a colisão de
placas litosféricas que terão dado origem à
Pangeia, já em fase tardia da Orogenia Varisca, ocorrendo um movimento
de desligamento esquerdo, que terá separado regiões
até cerca de 1,5 Km da sua origem, como é o caso do monte de S.
Martinho, em Castelo Branco.
Na dança das placas tectónicas, há cerca de 10 milhões de anos, durante a colisão do continente africano com a Península Ibérica, terá ocorrido a sua reativação dandose um movimento vertical inverso, com um rejeito que atinge mais de 120 m de altitude na escarpa da Idanha.
A sua reativação é mostrada por contactos por falha
entre as rochas antigas do soco e sedimentos com menos
de 50 milhões de anos e por dados geomorfológicos – a escarpa de falha,
elemento dominante do relevo regional, ainda bem
preservada nesta zona, como o atesta as fragas verticais. Daqui resultou
um enorme degrau que constituiu uma estrutura de
defesa natural, tendo sido a escolha mais óbvia para a construção do
Castelo de Idanha-a-Nova, assim como de outras
estruturas defensivas, ao longo de toda a escarpa. A falha esboça a
primeira subida do planalto da Meseta em direção à
Cordilheira Central, elevando-o da Superfície de aplanação do Alto
Alentejo, a Sul, para a Plataforma de Castelo Branco,
mais alta, a Norte.
Meandros de rio Zêzere
O majestoso vale do Zêzere, um dos mais belos e caprichosos vales
fluviais de Portugal, perturba a monotonia das serranias
xistentas, que abundam a noroeste do Geopark Naturtejo. Percorrer uma
das estradas panorâmicas que acompanham o rio Zêzere,
ou caminhar ao longo da Grande Rota do Zêzere, em Oleiros,
transporta-nos através de um rio que serpenteia profundamente
encaixado na paisagem, criando meandros pronunciados. Estes meandros em
trincheira (Ribeiro, 1943) têm margens simétricas,
ou quase, e derivam dos meandros livres que depois se encaixaram numa
única etapa de incisão fluvial. Os meandros, bem como
a sua sinuosidade acentuada por fraturas no substrato xistento, são
produto do abatimento tectónico bordejado por
falhas.
Água: o principal agente modelador da paisagem
através dos tempos
A circulação de águas subterrâneas em formações sedimentares detríticas,
xistentas, quartzíticas e graníticas, a sua
associação com falhas profundas de atividade tectónica recente e o
tempo de residência são responsáveis pela emergência de
importantes nascentes, na área do Geopark Naturtejo. Quando uma gota de
água atinge o solo esta, dependo das características
da superfície, pode infiltrar-se recarregando os aquíferos no subsolo. A
infiltração e circulação das águas subterrâneas
depende, fundamentalmente, da porosidade e da permeabilidade dos solos e
das rochas. A história desta circulação vai ser
testemunhada pelas características físico-químicas de cada água, uma
assinatura única que pode ser revelada numa prova de
águas, para os palatos mais sensíveis!
No Geopark Naturtejo propõe-se explorar as relações entre as propriedades químicas das águas, popularmente reconhecidas pelos seus efeitos terapêuticos ao longo de séculos, e os substratos geológicos onde têm origem. Algumas destas nascentes têm tal importância científica, económica e sócio-cultural, que integram o Inventário do Património Geológico e Geomineiro do Geopark Naturtejo da UNESCO (Rodrigues et al. 2011).
Quanto a águas termais, as águas de Monfortinho infiltram-se na região de Penha Garcia, nos quartzitos da Formação do Quartzito Armoricano (478 – 468 milhões de anos) e circulam através dos planos de estratificação e das rochas fissuradas, atingindo 600 a 700 metros de profundidade, o que justifica a sua temperatura de 30,5 °C (Carvalho, 2001). Ao longo do seu percurso a água vai sendo enriquecida em sílica e outros elementos químicos acessórios, principal constituinte dos quartzitos, por dissolução das rochas. A emergência destas águas à superfície deve-se a falhas geológicas associadas à importante Falha do Ponsul, por onde esta se escapa. Este é um importante recurso usado exclusivamente no balneário termal, pela sua mineralização e temperatura.
Em relação a águas minerais frias, destaque para as Termas da Fadagosa de Nisa. A Fadagosa de Nisa, assim designada pelo cheiro típico das águas sulfurosas, é uma água bicarbonatada sódica, fracamente mineralizada, com um substrato em granitos fraturados, cujas fissuras estão preenchidas por argilas resultantes da alteração dos feldspatos e que dificultam a circulação das águas subterrâneas. A Fonte dos Sinos em S. Miguel d’Acha é uma fonte de mergulho com águas de características sulfúreas associadas à lixiviação de filões com sulfuretos de chumbo (galena) e paragénese associada. A Fonte Santa, em Águas, caracteriza-se por uma água mineral sulfúrea que circula no plutonito de Penamacor-Monsanto, condicionada pela Falha da Fonte Santa e usada em balneoterapia. O seu uso popular há séculos batizou a aldeia em que se encontra. Os Banhos da Horta do Almortão, antigamente associadas aos rituais da famosa Senhora do Almortão, apresentam águas férreas que resultam da circulação nos metapelitos do Grupo das Beiras, nas proximidades da Falha do Ponsul.
Todos estes geossítios se revestem de grande importância
geocultural na medida em que as características e
qualidades destas águas foram reconhecidas pelas populações e
aproveitadas para fins terapêuticos em alguns casos desde,
pelo menos, o período Romano.
O Homem transforma a paisagem: Património
Geomineiro
A exploração mineira está bem patente por todo o território do Geopark
Naturtejo, com vestígios desde a Idade do Ferro e
110 concessões estabelecidas entre 1887 e 1958, tendo sido explorado
ouro, prata, estanho, volfrâmio, chumbo, zinco, fósforo
e barite (Neto de Carvalho et al. 2006, Rodrigues et
al. 2011). O património geomineiro revela as
especificidades dos contextos geológicos em que ocorrem as
mineralizações, mas está intimamente ligado à tecnologia utlizada
na sua exploração, nos vestígios de ferramentas e edifícios de
preparação e tratamento de minério. Por outro lado, a
importância histórica que os minérios foram alcançando, designadamente
com a “Febre do volfrâmio” na 2ª Guerra Mundial, o
aumento da procura e do preço do volfrâmio nos mercados internacionais
fizeram despoletar um sem número de explorações
informais, assim como uma panóplia de ilegalidades associadas, como
contrabando, espionagem, falsificações, desvios, entre
outras, imprimindo uma vertente histórica e sociológica ao património
geomineiro deste território.
As minas proto-históricas são comuns no Geopark Naturtejo, ao longo dos quartzitos da Formação do Quartzito Armoricano, tendo sido exploradas mineralizações compostas por óxidos e hidróxidos de ferro (hematite-goethite-limonite) em cavidades subterrâneas típicas, de grande dimensão e com galerias irregularmente distribuídas e de diferentes extensões. São atualmente visíveis vestígios de metalurgia, sendo abundantes as escórias que testemunham a fundição do ferro e pontuais escombreiras de quartzito. Destaca-se o Complexo Mineiro de Monforte da Beira, um geomonumento que inclui cinco cinco minas proto-históricas, mas também os Vieiros de Salvador, em Penamacor, que ilustram este tipo de mineração. Outras minas como a Cova da Moura do Barbaído, a Buraca da Faiopa no Arneiro ou a Buraca da Moura de Chão de Galego, encerram lendas e mitos, que passam de geração em geração. Na página do Geopark Naturtejo, na secção Geopark Virtual, existe a aplicação multimédia “Monforte da Beira na Idade do Ferro”, com uma reconstituição da exploração mineira feita naquelas minas, exemplificando as ferramentas e as técnicas.
Nos estádios finais da cristalização dos granitos no interior da crusta deu-se a injeção de fluidos magmáticos que ao precipitar formaram filões ricos em elementos de grande importância económica como o estanho, o volfrâmio ou o ouro, aclamado desde a Antiguidade na região. No Geopark Naturtejo, o ouro foi explorado em jazigos aluvionares (secundários) resultantes da erosão fluvial dos filões e concentração nos terraços fluviais, principalmente a partir do período romano, com grandes explorações extensivas a céu aberto. O Conhal do Arneiro, uma autêntica exploração industrial que transformou uma área de 70 ha, atualmente preserva as imponentes conheiras, os amontoados cónicos de grandes calhaus rolados (conhos) provenientes do desmonte das formações arenosas. As técnicas de mineração romanas baseavam-se genericamente no desmonte gravítico dos depósitos detríticos, recorrendo à lavagem dos materiais com sofisticados sistemas hidráulicos. Estas tecnologias romanas estão presentes em minas como a Conheira de Foz do Cobrão-Sobral Fernando, no Gorroal da Veiga, em Salvaterra do Extremo e no gigantesco Complexo Mineiro da Presa, em Penamacor, nos terraços fluviais dos rios Tejo, Erges, Ocreza e Ponsul que foram largamente explorados. A mineração de ouro foi sendo feita intermitentemente, ao longo dos tempos, praticamente até à atualidade. No Romaninhal, a “Terra do Ouro”, ainda há memória de se encontrarem pepitas com um peso superior a 1 Kg! Hoje em dia, o garimpo de ouro é uma atividade turística e educativa do Geopark Naturtejo que permite experienciar técnicas milenares de exploração dos recursos geológicos.
Em Segura, durante a instalação dos granitos orogénicos (315-310 milhões de anos) deu-se a circulação de fluidos muito quentes ao longo de fraturas na crusta terrestre, que originaram várias famílias de filões, nomeadamente filões sub-horizontais ricos em cassiterite (estanho), volframite (volfrâmio) e blenda (zinco), assim como filões sub-verticais posteriores ricos em barite (bário) e galena (chumbo). No Couto Mineiro de Segura existiram explorações subterrâneas, em galerias que seguiam os filões mineralizados, mas houve também uma grande exploração à superfície. Durante a Segunda Guerra Mundial, grande parte da exploração de estanho e volfrâmio era assegurada por “apanhistas”, trabalhadores que se dedicavam por conta própria e vendiam à Empresa o produto do seu trabalho. Na Oficina de Preparação e Beneficiação de Minérios era feita a separação e concentração dos metais, numa instalação que está atualmente integrada na “Rota das Minas”, um percurso pedestre ao longo de antigas explorações mineiras que enquadra os aspetos tecnológicos da sua exploração, o contexto social que se desenvolveu à volta de territórios mineiros e os enquadramentos históricos e económicos em que se inseriram. No ponto de partida do percurso localiza-se o geomonumento “Canhões Fluviais do Erges”, uma impressionante garganta fluvial, morada de grifos e abutres e o Centro de Interpretação “Terras de Idanha”, uma janela sobre o Parque Natural do Tejo Internacional. Na página de internet do Geopark Naturtejo está disponível uma Visita Virtual às Minas de Segura, com uma experiência próxima da realidade, considerando a integridade patrimonial dos geossitios e a segurança dos visitantes, assegurando uma mais eficiente interpretação.
Nas montanhas xistentas de Oleiros surgem filões de quartzo ricos em volfrâmio, explorados ao longo de duas impressionantes encostas, com mais de 160 m de desnível, mostrando as numerosas galerias das Minas do Cavalo, ainda hoje admiráveis. A fragilidade do subsolo nas galerias de desmonte era compensada com o escoramento em pinho e rochas arrancadas do interior da terra, entivação que ainda mantém algumas galerias desobstruídas. O trabalho de desmonte do filão fazia-se com recurso a barrena e martelo, para a instalação dos cartuchos de dinamite. Mais tarde, a introdução de martelos pneumáticos sem aspersão de água aumentou a incidência de problemas respiratórios entre marteleiros, safreiros e ajudantes, causando doenças como a silicose, pela inalação de partículas de sílica.
As Minas da Mata da Rainha, na fronteira dos concelhos de Penamacor, Idanha-a-Nova e Fundão são um importante testemunho da exploração mineira no contexto da Segunda Guerra Mundial, descritas de forma impressionante por Fernando Namora na sua célebre obra Minas de San Francisco. As minas assentam entre o contacto das rochas metassedimentares do Grupo das Beiras e rochas graníticas atravessadas por filões de quartzo ricos em volfrâmio e estanho.
Em Sarzedas situam-se a Minas das Gatas, a maior exploração de antimónio durante o séc. XX, em Portugal, onde também se explorou ouro. Os filões explorados correspondem a 2 diques félsicos. Existem no local vestígios de exploração romana, porém o período de maior atividade desta mina foi no século XX, em que só no ano de 1939 se extraíram 400 toneladas de antimónio. Estas e outras minas podem ser visitadas através do percurso pedestre “Caminho do Xisto de Sarzedas”, um percurso que faz uma ponte entre o contexto geológico que possibilitou a atividade mineira, os jazigos minerais e as suas características, entre o substrato geológico e a arquitetura tradicional da Aldeia de Xisto de Sarzedas.
As minas abandonadas constituem um grave problema ambiental e social e uma das formas de reabilitação destes espaços passa pela recuperação e valorização do património geomineiro, com desenvolvimento de parques mineiros e interpretação da atividade mineira, que ainda hoje escasseiam em Portugal.
Aprender a Geoconservar
O património geológico do Geopark Naturtejo da UNESCO exprime a
geodiversidade especial do território, onde existem
geossítios com valor didático, onde se promove a Educação em
Geociências, e especificamente a Educação em Geoconservação.
Estes geossítios revelam uma dinâmica natural que decorreu ao longo do
tempo geológico, produto das principais etapas
geológicas que atuaram na região, constituindo locais de referência,
alguns deles incluídos no Inventário do Património
Geológico Português e tendo reconhecimento internacional. Considerando
que a Educação em Geoconservação abre caminho para um
número crescente de cidadãos mais esclarecidos, capazes de formular
opiniões e tomar decisões conscientes, o Geopark
Naturtejo promove o património geológico junto do público escolar
através de Programas Educativos, em temáticas geológicas e
ambientais. As características únicas do património geológico do Geopark
Naturtejo, no seu enquadramento natural, histórico
e cultural diversificado, fazem dele um singular recurso didático que
permite explorar e interrelacionar uma grande panóplia
de temas no âmbito das Geociências, em articulação com áreas como a
Biodiversidade ou a Arqueologia, entre outras. Mas, uma
vez que a Geodiversidade desperta habitualmente pouco interesse na
população e o património geológico é ainda quase
totalmente desconhecido, a divulgação é também uma das principais
missões dos geoparques. Existem ações dirigidas aos
diversos tipos de público, com atividades de divulgação científica e
programas turísticos, com abordagens transdisciplinares,
que incluem inúmeras vertentes da Geodiversidade, assentando na
interpretação das paisagens, na descodificação dos complexos
processos geológicos, tornando o conhecimento científico mais acessível
e apelativo.
Em suma, o Geopark Naturtejo, um Geoparque Mundial da
UNESCO, uma forma diferente de aprender na Natureza,
um território aberto à criatividade e ao conhecimento.
Joana Rodrigues e Carlos
Neto Carvalho
Geopark Naturtejo da Meseta Meridional
Geoparque Global, reconhecido pela UNESCO
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