A natureza, que, sem interrupção, procede como um construtor, é, nesse sentido,
a nossa melhor mestra, não apenas em matéria de arte, como também de técnica.

Karl Blossfeldt, 1932


É necessário observar as plantas como uma
construção artística e arquitectural.
Karl Blossfeldt, 1932


A fotografia não é apenas um meio para ilustrar a ciência, mas um método para fazer ciência. Revelar uma forma, alterar-lhe a escala, simular a cor ou circunscrever um enquadramento, são modos de entender como se pode ver melhor o que é, muitas vezes, da ordem do intangível. Nesta microfotografia de uma Urtica dioica, a composição é marcada pela diagonal descendente sobre um plano negro, que se acentua a partir do canto superior esquerdo do enquadramento. O destaque do corte pela incidência da luz e a ausência de profundidade, a subjetividade da cor e a evidência de uma direção e movimento para o olhar, provocam desordem na perceção do leitor. Talvez por isso, nesta imagem, este objeto individualizado no tempo supera o seu caráter funcional, corporiza uma encenação ótica e confirma a sua qualidade em gerar uma representação abstrata a partir de formas naturais.

Susana Lourenço Marques
Belas Artes, Universidade do Porto



Muitas são as plantas que apresentam pelos (ou tricomas, como os designam os botânicos) em variadas regiões do corpo, os quais desempenham diferentes funções, tais como diminuir o stress hídrico ou proteger da radiação solar e/ou proteger a planta de possíveis herbívoros ou atacantes, entre outros desempenhos. Os pelos das urtigas (Urtica sp.), são simples, constituídos por uma única célula cujo “pé” se encontra envolto pelas próprias células da epiderme, ocos e cheios de substâncias segregadas pela célula. A parede celular do pelo é composta, essencialmente, por celulose, mas a região apical é siliciosa pelo que se gera uma superfície de fratura. Assim, quando o pelo contacta com um animal, a cabeça do pelo parte-se separando-se do corpo, o qual se comporta como uma agulha hipodérmica, e injeta o conteúdo da célula. No interior existe uma mistura química complexa incluindo acetilcolina, histamina, serotonina, ácido fórmico, etc., e que vai provocar a dor tão característica.

Rubim de Almeida Silva
Ciências, Universidade do Porto