Origami e Vírus
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- ɫ CMAF_IO/ Universidade de Lisboa
Referência Burczyk, K., Rodrigues, J.F., (2018) Origami e Vírus, Rev. Ciência Elem., V6(2):049
DOI http://doi.org/10.24927/rce2018.049
Palavras-chave Origami; Vírus;
Resumo
A imagem «Origami e Vírus» foi submetida pela Krystyna Burczyk, e está disponível no Banco de Imagens da Casa das Ciências.
Eu crio as minhas obras de arte de pequenos pedaços de papel com espirais que conectam e ligam os elementos a uma grande estrutura. Na obra de origami acabada, a que chamo Voltinhas, estas espirais vivem e trabalham. Forças de tensão e fricção contrapõem-se à gravidade e mantêm a forma estável. Nas minhas criações procuro estar perto da natureza. Quando criamos ou estudamos modelos de papel na macro escala, podemos entender melhor as formas criadas pela natureza na micro escala. A minha obra de origami na capa, o trabalho intitulado “Inverno num parque de Lisboa”, e o capsídeo do vírus Canine parvovirus, um vírus contagioso que ataca sobretudo os cães e outros canídeos, têm a mesma estrutura geométrica do pequeno rombicosidodecaedro, um poliedro com simetria icosaédrica. Essa obra invoca simbolicamente o Ano da Biologia Matemática 2018. O origami é uma arte de dobragem do papel, com uma forte componente geométrica, que permite a construção de formas complexas e tem atraído o interesse de matemáticos pelas suas propriedades geométricas e algébricas.
Krystyna Burczyk
Os vírus são responsáveis por inúmeras doenças no homem, nos animais e nas plantas e as curas e prevenções são ainda muitas vezes problemáticas. Desenvolvimentos recentes das aplicações da matemática à virologia, nomeadamente das teorias de grupos, de grafos, de tesselação ou de reticulados, mostraram, por exemplo, que as restrições estruturais às formas dos vírus são maiores do que antes se pensava, e permitiram a construção de novos modelos para o desenvolvimento de terapias anti-virais. Os capsídeos virais que envolvem os genomas dos vírus, por razões de economia genética, tem muitas vezes uma simetria icosaédrica. Ora esta simetria não é cristalográfica em três dimensões, i.e. não é compatível com reticulados periódicos, o que motivou os matemáticos a desenvolverem novas estruturas no contexto de grupos de Coxeter não-cristalográficos que encontraram aplicação não só na virologia, mas também noutras estruturas moleculares da química do carbono.
José Francisco Rodrigues
Universidade de Lisboa
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