Lembrei-me desta situação a propósito do filme O primeiro homem na Lua de Damien Chazelle, que se centra na biografia de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar a Lua e que proferiu a célebre frase One small step for man, one giant leap for mankind. Também por esta altura está a ser exibida na TV (National Geographic Channel) a segunda temporada de Marte, uma série ficcional produzida pela National Geographic sobre a conquista do planeta vermelho. Neste caso, trata-se ainda de ficção, mas é muito provável que durante este século, alguém, algures em Marte, possa proferir uma frase semelhante àquela com que Neil Armstrong nos brindou no dia 20 de julho de 1969, depois do seu curto passeio em solo lunar.

Cumpridos quase 50 anos sobre este marco histórico da ciência e tecnologia, provavelmente um dos factos mais bem documentados de sempre, continua a haver um considerável número de pessoas que acredita que tudo isto não passou de uma grande farsa montada pelos americanos para demonstrar o seu avanço tecnológico relativamente aos russos. Numa sondagem realizada em 2016, um jornal britânico indicava que 52% dos inquiridos consideravam que a missão Apollo 11 não tinha passado de uma montagem. Fake news, portanto. Os dados da sondagem eram tanto mais preocupantes quanto os inquiridos mais céticos eram pessoas entre os 25 e 34 anos. E não se pense que isto é exclusivo dos ingleses. Uma sondagem semelhante feita na Rússia, mostrou que apenas 24% das pessoas acreditavam que a missão Apollo 11 tinha de facto ocorrido. Talvez aqui a rivalidade entre Russos e Americanos ajude um pouco a compreender estes dados.

Se não acreditar que o Homem foi à Lua já é bastante preocupante, o que dizer do facto de muitas pessoas estarem a deixar de vacinar os filhos por acreditarem que as vacinas provocam danos secundários superiores aos benefícios? Num estudo recentemente (2016) publicado na revista EBioMedicine (DOI: 10.1016/j.ebiom.2016.08.042), Larson e colaboradores mostraram que a Europa é a região do globo mais cética em relação à segurança das vacinas, com a França a ser o país em que menos acreditam (41%) que as vacinas são seguras.

Estes dados mostram claramente que a confiança dos cidadãos na ciência e na tecnologia está em queda. Reverter esta tendência exige um esforço de todos aqueles envolvidos na procura e divulgação do conhecimento científico, desde os investigadores, que precisam de explicar melhor à opinião pública os benefícios da ciência e da tecnologia, aos professores, os grandes divulgadores científicos que têm um papel crucial na formação científica dos jovens. Podemos acomodar-nos e dizer, como Neil de Grasse Tyson, um conhecido astrofísico e divulgador científico, que “o que é bom acerca da ciência é que é verdadeira independentemente de acreditarmos nela”. No entanto, ter uma posição mais ativa na informação dos cidadãos é crucial para combater a anti-ciência e criar sociedades que saibam aproveitar e reconhecer os benefícios daquilo que a ciência e a tecnologia nos oferecem.

É neste contexto, em que a sociedade parece olhar para a ciência com alguma reserva, ou mesmo descrédito, que gostaria de realçar o papel que a Casa das Ciências tem tido nesta aproximação entre investigadores e professores, não apenas na realização dos encontros internacionais, mas também pela qualidade e quantidade de informação que existe atualmente disponível no Banco de Imagens, na Wikiciências, no Banco de Recursos Educativos e na Revista de Ciência Elementar.

Neste último número de 2018, e com o aproximar de mais uma cerimónia de entrega dos Prémios Casa das Ciências 2018, que culmina outro ano de intensa atividade desta nossa “casa comum”, desejo a todos os leitores e colaboradores da revista um feliz ano de 2019.