Que estudam os nossos jovens
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- Departamento de Química e Bioquímica, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto
Referência Gomes, J.A.N.F., (2019) Que estudam os nossos jovens, Rev. Ciência Elem., V7(3):040
DOI http://doi.org/10.24927/rce2019.040
Palavras-chave abandono escolar; tesp; pisa; ocde
Resumo
Nos últimos 20 anos, temos feito um enorme esforço para manter na escola todos os jovens até aos 18 anos. De facto, a taxa de abandono escolar precoce estava próxima dos 50% no início do século e baixou de forma sustentada até perto dos 10%, o alvo proposto para 2020. Isto exigiu um enorme trabalho das escolas e uma notável capacidade de adaptação dos professores. A população escolar é hoje diferente daquela que estava nas escolas e aceita desafios muito diferentes. A insistência na via escolar única, a “liceal”, era rejeitada por muitos que não se sentiam acolhidos e abandonavam a escola. O quadro seguinte apresenta o nível educativo da população de 25 a 29 anos dos diferentes países europeus, segundo o Eurostat com dados dos censos de 2011. (O nível 3-4 corresponde ao secundário e o nível 5-8 ao TeSP, licenciado, mestre e doutorado.)
Portugal (e Espanha) estava(m) ainda longe da média da União Europeia com um enorme excesso de população não qualificada. Os níveis 3-4 têm de ser reforçados, especialmenteas vias profissionalizantes do secundário. Note-se que países como a Espanha e a França têm uma forte presença do nível 5 (TeSP em Portugal) que explica a alta taxa de qualificação superior. Os perfis educativos com forte componente científica são a base para as qualificações profissionais técnicas que são as mais procuradas no mercado de trabalho ao nível 4 (secundário profissional) ou a um nível superior. A desejada transformação da nossa economia com o reforço da produção de bens transacionáveis (exportações) exige uma melhor qualificação técnica dos mais jovens e uma aproximação entre os seus percursos educativos e os setores mais dinâmicos da economia, especialmente das empresas das suas regiões. Isto traduz-se num esforço adicional das escolas e dos professores para encontrarem os nichos de educação e formação mais relevantes para cada um dos seus alunos.
A diversificação dos percursos educativos, especialmente ao nível secundário exige um esforço adicional para a proposta de estratégias de aprendizagem e dos próprios objetivos na matemática e nas ciências. A tradicional “dificuldade” de muitos alunos pode resultar do desajuste entre os seus objetivos e a proposta dos programas e do professor. Em comparação internacional, temos feito progresso na matemática (em jovens de 15 anos, exercício PISA da OCDE). Na generalidade dos países, os objetivos propostos para o secundário em matemática e ciências variam muito conforme a via escolhida pelos alunos. Entre nós este caminho foi iniciado com perto de 50% dos jovens a escolherem a via mais académica (cientifico-humanística) que é fortemente regulamentada e merece toda a atenção pública e política. As vias profissionais deveriam merecer a mesma atenção, quer pelos muitos jovens cujo futuro depende do trabalho aí feito, quer pelo impacto social e económico da formação profissionalizante que aí devem receber.
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