Em 1977, Charles e Ray Eames realizaram Powers of Ten, um filme encomendado pela IBM que adaptava o livro Cosmic View do holandês Kees Boeke, permitindo ao espectador fazer uma viagem vertical, com início no Central Park, sobre um eixo ascendente em direcção ao pó da galáctica a 1025 metros de distância e vertiginosamente descendente, revelando os fragmentos atómicos da realidade a -1016 metros de profundidade. Olhando para a relatividade da escala do Universo, percebemos que as coisas, porque são exponenciáveis, se tornam diferentes em diferentes escalas e que as imagens que delas se retiram, acontecem na variação dessa ordem de magnitude. Muito depois dos delicados desenhos micrográficos de Robert Hooke, esta imagem atmosférica — que na legenda se desvenda como um grão de pólen de hibisco — move-se no antagonismo da sua imensidão mínima, quebrando os obstáculos da opacidade e mostrando as complexas formas da sua origem. Acima de tudo, revela o afastamento do peso e da gravidade que o infinitamente pequeno privilegia.

Susana Marques
FBAUP/Universidade do Porto

A fotografia do grão de pólen da flor de Hibiscus, foi tirada durante uma aula prática da disciplina de Biologia e Geologia e reflete o quão espetacular é o mundo microscópico e também como as aulas e a biologia, podem ser fascinantes para os alunos (e para os professores). Contrariamente à opinião de muitos, o telemóvel faz parte do material das minhas aulas práticas e é recompensador ver os alunos a ficarem maravilhados com as fotografias que tiramos e que permitem apercebermo-nos, ainda mais, dos pormenores espetaculares das imagens dadas pelas lupas e pelos microscópios. O pólen, ao ser fotografado, deixou de ser apenas algo de que falo a propósito da reprodução sexuada ou do problema da extinção das abelhas, e passou a ser também aquela entidade misteriosa e espetacular de quem nos apropriámos e que nos fascina. É a arte da biologia!

Fátima Cotrim
Escola Secundária de Odivelas