Máscara da Peste Negra
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- * Academia Nacional de Medicina de Portugal
- ɫ Museu da Farmácia
Referência Alves. M.V., Museu da Farmácia, (2020) Máscara da Peste Negra, Rev. Ciência Elem., V8(3):041
DOI http://doi.org/10.24927/rce2020.041
Palavras-chave Peste negra, proteção, Idade Média, pandemia
Resumo
A imagem «Máscara da Peste Negra» foi submetida por Museu da Farmácia (Lisboa), e está disponível no Banco de Imagens da Casa das Ciências.
No século XIV, a Europa conheceu uma das doenças que mais marcou a história da humanidade, afetando milhões de pessoas em todo o continente: a peste negra.
A peste negra numa primeira fase era transmitida através dos ratos e das pulgas infetadas, que propagavam a doença quando entravam em contacto com os seres humanos. Numa segunda fase, passa a ser transmitida por espirros e tosse, o que potenciou a sua capacidade de transmissão, levando esta pandemia a dezenas de milhões de pessoas, ao redor do mundo.
Embora a primeira pandemia da peste negra na Europa date do século XIV, será apenas no século XVII que um médico francês, Charles de Lorme, vai criar um traje para o médico da peste negra. Esta peça de vestuário caracterizava- se por um manto preto, que cobria todo o corpo de forma a proteger aqueles que o vestissem. A cabeça era coberta com uma máscara negra que tinha a particularidade de ter um bico no qual eram colocadas ervas aromáticas misturadas com palha. Este composto tinha a finalidade de filtrar os odores fétidos da peste negra, evitando a contaminação do médico, segundo a teoria miasmática.
Museu da Farmácia (Lisboa)
Usado em rituais mágicos nas sociedades primitivas, no teatro grego, nas festividades profanas medievais e nos bailes, “farsas” e teatro popular renascentistas, o conceito de máscara não se alterou muito até ao século XX, altura em que as artes plásticas o apropriam. De Modigliani e Picasso a Bacon, Paula Rego e Cindy Sherman, a máscara passa a ser sinal de uma crise identitária que não pára de crescer. Trabalhos recentes, como as esculturas-máscara de Ron Mueck, já questionam abertamente a inadaptação actual do corpo biológico às necessidades de um mundo progressivamente tecnodependente, mostrando que o corpo desejável é hoje, não um corpo meramente mascarável, mas um corpo infinitamente fluido, reconfigurável e disseminável, um vazio biológico. Entre a robôtica e a genómica, a mecânica e a informática, vão-se abrindo progressivamente as portas para o que, à falta de melhor termo, poderemos chamar de pós-humano.
Manuel Valente Alves
Academia Nacional de Medicina de Portugal
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