Função logarítmica
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- *, ɫ CMUP/ Universidade do Porto
Referência Tavares, J., Geraldo, A., (2021) Função logarítmica, Rev. Ciência Elem., V9(2):029
DOI http://doi.org/10.24927/rce2021.029
Palavras-chave Matemática, função, funções, IR, logaritmo, base da função logarítmica
Resumo
Uma função real L:R+→R, chama-se uma função logarítmica quando tem as seguintes propriedades:
A) L é uma função estritamente crescente, isto é, x<y⇔L(x)<L(y) ou L é uma função estritamente decrescente, isto é, xzy⇔L(x)>L(y);
B) L(xy)=L(x)+L(y) para quaisquer x,y∈R+.
Para todo x∈R+, o número L(x) é o logaritmo de x.
Propriedades
As provas de cada uma das propriedades que se seguem, consideram que L é uma função estritamente crescente. Quando L é uma função estritamente decrescente, as provas são análogas.
1) Injetividade: Uma função logarítmica é sempre injetiva, ou seja, números positivos diferentes têm logaritmos diferentes.
Considerando x e y esses números, podemos então ter que x<y ou x>y. Se x<y resulta da propriedade A) que L(x)<L(y). Da mesma forma, se x>y então L(x)>L(y). Nos dois casos, considerando x≠y temos que L(x)≠L(y).
2) Logaritmo de 1: O logaritmo de 1 é zero, pois da propriedade B) resulta que,
L(1)=L(1×1)=L(1)+L(1) logo L(1)=0.
3) Os números maiores do que 1 têm logaritmos positivos e os números positivos menores do que 1 têm logaritmos negativos.
Sendo L uma função crescente, consideremos 0<x<1<y. Temos então que L(x)<L(1)<L(y), isto é, L(x)<0<L(y).
4) Para todo x>0 tem-se L(1/x)=−L(x).
Considerando x e 1/x temos que, x⋅(1/x)=1, donde pelas propriedades B) e 3), temos L(x)+L(1/x)=L(1)=0. Portanto, concluímos que L(1/x) = −L(x).
5) Para quaisquer x,y∈R+ tem-se L(x/y)=L(x)−L(y).
Esta propriedade decorre imediatamente da propriedade anterior, pois
L(x/y)=L(x⋅(1/y))=L(x)+L(1/y)=L(x)−L(y).
6) Para todo x∈R+ e para todo o número racional r=p/q tem-se L(xr)=r⋅L(x).
Comecemos por notar que a propriedade A) se estende a um produto de um qualquer número de fatores: L(x1×...×xn)=L(x1)+L(x2)+...+L(xn)..
Em particular, se n∈N temos que:
L(xn)=L(x×...×x)=L(x)+L(x)+...+L(x)=n⋅L(x).
e fica assim a propriedade provada para r número natural.
Para r=0 está provado, uma vez que, x0=1, logo L(x0)=L(1)=0=0⋅L(x).
Considerando r um número inteiro negativo, r=−n com n∈N, temos pelas propriedades das potências que xn⋅x−n=1. Logo, L(xn)⋅L(x−n)=L(1)=0, concluímos então que L(x−n)=−L(xn)=−n⋅L(x).
Finalmente, para r um número racional, r=p/q temos que (xr)q=(xp/q)q=xp. Pelo provado anteriormente sabemos então que
q⋅L(xr)=L((xr)q)=L(xp)=p⋅L(x).
Concluímos então que q⋅L(xr)=p⋅L(x) donde resulta que L(xr)=(p/q)⋅L(x), ou seja, L(xr)=r⋅L(x).
Inversa da função logarítmica
Recordemos que a inversa da função exponencial de base a é a função logax:R+→R, que associa a cada número real positivo x>0 o número real loga, chamado logaritmo de x na base a. Por definição de função inversa temos então que:
alogax=x e loga(ax)=x
Portanto, logax é o expoente ao qual se deve elevar a base a para obter o número x:
y=logax⇔ay=x.
Em seguida, vamos provar que para toda a função logarítmica L, com as propriedades anteriormente definidas, existe a>0 tal que L(x)=logax, para todo x∈R+.
Suponhamos que L é uma função estritamente crescente (o caso em que é estritamente decrescente é tratado igualmente).
Vamos admitir para já que L(a)=1 para um certo a∈R+, que é único. Veremos depois que esta hipótese não é restritiva.
Como L é uma função estritamente crescente, e L\left ( 1 \right )=0<\mathit{}1=L\left ( a \right ), deduzimos que a>1. Para todo m∈N temos que:
L(am)=L(a×a×...×a)=L(a)+L(a)+...+L(a)=1+1+...+1=m.
0=L(1)=L(am⋅a−m)=L(am)+L(a−m) donde concluímos que L(a−m)=−m. Se r=m/n com m∈N e n∈N então rn=m, e portanto, m=L(am)=L((ar)n)=n⋅L(ar) donde concluímos que L(ar)=mn=r.
Finalmente se x for um número irracional, então, tomando r e s dois números racionais arbitrários tais que r<x<s, temos que, uma vez que a>1, r<x<s⇒ar<ax<as⇒L(ax)<L(as)⇒r<L(ax)<s.
Como r e s são arbitrários, segue-se por enquadramento de limites e por unicidade do limite, que L(ax)=x para todo x∈R.
Portanto, L(y)=logay para todo y>0.
Vejamos agora que a hipótese anteriormente assumida de que L(a)=1, para um certo L(a)=1, que é único, não é restritiva.
Consideremos então o caso geral, em que temos uma função estritamente crescente L:R+→R. Então L(xy)=L(x)+L(y), e como 1<2 devemos ter que 0=L(1)<L(2)=b, isto é, b>0. Seja M:R+→R uma nova função, definida por M(x)=L(x)/b.
Esta função é também estritamente crescente, transforma somas em produtos e cumpre M(2)=1. Logo, pela primeira parte da demonstração, tem-se M(x)=log2x para todo x>0. Portanto, para todo x>0 temos, x=2M(x)=2L(x)/b=(21/b)L(x)=aL(x), onde a=21/b.
Tomando logax de ambos os membros da igualdade anterior, x=aL(x), vem finalmente logax=L(x).
Base da função logarítmica
Na secção anterior provamos que uma qualquer função logarítmica, L(x), é sempre igual ao logaritmo de x numa base a, onde L(a)=1.
Mudança de base
Consideremos La e Lb duas funções logarítmicas com bases a e b, respetivamente. A fórmula que nos permite efetuar a mudança de base é a seguinte:
La(x)=La(b)⋅Lb(x).
Por exemplo, tomando a qualquer e b=2, e fazendo t=La(x) e ν=L2(x), então at=x e 2ν=x. Se escrevermos c=La(2) sabemos que é equivalente a ac=2, logo, x=at=2ν=(ac)ν=acν portanto t=cν, isto é, La(x)=La(2)⋅L2(x) para todo x>0.
Aplicando o mesmo raciocínio, podemos concluir que a igualdade:
La(x)=La(b)⋅Lb(x) é válida em geral.
Referências
- 1 LIMA et al., A Matemática do Ensino Médio - Volume 1, 2ªedição, Coleção do Professor de Matemática, Sociedade Brasileira de Matemática. 1997.
- 2 LIMA et al., Logaritmos, Instituto de Matemática Pura, VITAE Apoio à cultura, educação e promoção social. 1991.
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