Vivemos num mundo, pelo menos estranho! As notícias de todos os dias são a prova disto mesmo. Jornais e televisões noticiam o roubo de catalisadores em automóveis, tanto em cidades como em pequenas povoações. E para quê? Para extrair metais raros e metais preciosos dessas peças de automóvel, tais como paládio, platina e ródio que podem valer cerca de 60 euros o grama. Também todos os anos ouvimos na comunicação social que os recursos naturais desse ano estão esgotados e passamos a consumir os recursos do ano seguinte, tendo sido este ano de 2021 o dia 29 de Julho, cerca de um mês mais cedo do que no ano de 2020. No entanto todos os dias são vendidos computadores, televisores, telemóveis e um conjunto de objetos sem os quais não conseguimos viver, pelo menos, com aquilo a que chamamos “alguma qualidade de vida”. E quanto à energia. Nos anos 80 do século passado Ferrel, arredores de Peniche, era a Meca do “Nuclear, não obrigado!”, e depois dos acidentes de Chernobyl e Fukushima, ninguém no seu juízo perfeito defende o nuclear. Assistimos também a manifestações de populações sobre a prospeção de hidrocarbonetos no S e SW da costa portuguesa. Manifestações no N e centro do país sobre a prospeção e pesquisa de lítio para baterias de automóveis elétricos (os tais menos poluentes que diminuem a pegada ecológica).A tarefa de Editor convidado de um fascículo da Revista de Ciência Elementar surge-me sempre como um desafio simultaneamente aliciante e intimidante. Esta dupla sensação resulta do facto de a revista ser um importante elo entre a Casa das Ciências e os professores de ciências dos diferentes níveis de ensino. De cada editor convidado espera-se que seja capaz de contribuir para uma revista apelativa, motivadora, capaz de fortalecer essa ligação com os seus leitores. Naturalmente, espera-se também que imprima uma marca pessoal no fascículo sob sua responsabilidade - e é esse o tema deste editorial.

As pessoas insurgem-se sobre contra as centrais eólicas, que matam e desorientam o voo das aves e que prejudicam as paisagens das nossas serras e cadeias montanhosas. Autarcas e populações são contra a instalação de centrais solares fotovoltaicas que empobrecem as paisagens e que aumentam o albedo terrestre, aumentando assim o aquecimento global. Enfim, como aprendi há muitos anos, com alguns políticos: a) Não durante o meu mandato. b) Não no meu “quintal”, região, autarquia ou zona de residência. Isto leva-nos ao “vai chatear” outro... longe de preferência. Extração de ouro a céu aberto e concentrado com mercúrio sublimado por maçaricos direto para a atmosfera, desde que seja na Costa do Marfim, Gana ou Burkina Faso – longe, até nem é problema; ah, e feito por crianças e jovens. Assim, neste mundo estranho, onde se declara guerra ao CO2, o tal que nós e restantes seres vivos libertamos ao respirar, os vulcões emanam em centenas de toneladas, e que cientistas dizem que terá no futuro de tender para zero, vemos cheias, perdas de bens e vidas na Alemanha, Bélgica, Índia, China, culpando o CO2 e o efeito de estufa e não por se construírem povoações e infraestruturas em leitos de cheia, sem planeamento urbanístico.


FIGURA 1. A) Esta casa já cá estava em 1342... e continuou a estar. B) E não se aprendeu nada desde 1501.

Enfim... o mundo está estranho!