Jardins e parques urbanos proporcionam diversos contextos educativos onde os alunos podem ser orientados para a formulação de questões que os motivem a procurar respostas, num processo vivenciado de construção do conhecimento. A filosofia inerente à dinamização de Laboratórios Escolares da Paisagem é a de uma cedência de espaço verde pedagogicamente apetrechado, pretendendo-se que as escolas utilizem o local de forma autónoma e responsável, em aulas de caráter experimental e investigativo.

Na sequência de um protocolo estabelecido entre as duas entidades referidas, o LEP do Parque das Águas foi inaugurado a 11 de janeiro de 2020 e, a partir dessa data, professores de diferentes áreas disciplinares podem aí usufruir de um contexto natural de excelência e de ferramentas pedagógicas para o desenvolvimento de aulas e de projetos com alunos, em contexto de Natureza, valorizando a observação e interpretação da paisagem.

O Parque das Águas (FIGURA 1), na cidade do Porto, proporciona uma vista deslumbrante sobre o Douro e a praia do Areinho e, no passado, foi parte de uma quinta pertencente a uma família inglesa. A quinta, com uma área verde de 68.500 m2, foi adquirida pela Câmara Municipal do Porto em 1932 para alojar os serviços do SMAS do Porto e a área arborizada foi recentemente reaberta ao público, após obras de reabilitação. Ao longo do tempo, o espaço foi progressivamente sendo enriquecido com fontes e chafarizes da cidade do Porto, que para aí foram transferidas, constituindo atualmente um Museu a céu aberto onde podem ser visitados o Brasão da Fonte de S. Domingos, o “Universo” (Irene Vilar), a Fonte de Cedofeita, a Fonte da Fontinha, a Fonte do Ribeirinho ou dos Ablativos, o Chafariz do Convento de Avé Maria, a primeira Fonte da Arrábida, a Fonte da Rua Garrett, o Bebedouro da Praça Carlos Alberto, a Fonte do Campo Alegre, a Fonte da Feira dos Carneiros ou Chafariz de Camões, a Arca de Água de Santo Isidro, a Arca de Água do Mercado do Anjo e o Brasão da Fonte da Rua D. Pedro V.


FIGURA 1. Área verde da Quinta de Nova Sintra e algum património edificado das Águas do Porto.

Do ponto de vista biológico, o espaço inclui cerca de quarenta espécies arbóreas diferentes, pertencentes a vinte e duas famílias do reino vegetal. Entre os espécimes referidos, contam-se exemplares de palmeiras, sabugueiros, sobreiros, carvalhos, magnólias e eucaliptos, e muitas outras, algumas delas originárias dos mais diferentes e longínquos locais do nosso planeta. Constituem exemplo de espécies arbóreas presentes no Parque das Águas o sobreiro (família Fagaceae), a criptoméria do Japão ou cedro do Japão (família Taxodiaceae), a cameleira ou japoneira (família Theaceae), a palmeira da sorte (família Arecaeae), o tulipeiro (família Magnoliaceae), o carvalho americano (família Fagaceae), a alfarrobeira (família Fabacea), o acer japonês (família Aceraceae), o ulmeiro (família Ulmaceae), a magnólia (família Magnoliaceae), a faia-europeia (família Fagaceae), a palmeira da Canárias (família Arecacea), o vidoeiro (família Betulaceae) e a sequióa (família Taxodiaceae).

Entre as características do Parque favoráveis ao seu potencial educativo como LEP, destacam-se a diversidade da paisagem, enriquecida pelo referido património cultural de fontanários da cidade do Porto, a integração na estrutura Ecológica Urbana, o bosque com diferentes espécies autóctones, as múltiplas funções da paisagem (ecológica, recreativa, cultural, estética…), a biodiversidade florística (estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo), a presença de algumas espécies vegetais de caráter invasor e a necessidade de controlo das mesmas, a presença de espécies bioindicadoras da qualidade do ar (líquenes) e, entre outras situações de estudo, a existência de tanques construídos onde podem ser criadas condições de qualidade da água favoráveis a diferentes ecossistemas e à sua monitorização. O referido potencial educativo é complementado pela existência de um espaço físico de apoio a atividades investigativas, com material a ser utilizado pelas escolas em trabalho pedagógico realizado em contexto real de paisagem.

Como eixos ou percursos pedagógicos, no âmbito da utilização do Parque das Águas como LEP, salientam-se os seguintes: Percurso dos fontanários no âmbito da História do Porto; Percurso da água, com a observação da qualidade da água determinante de diferentes ecossistemas; Percurso da biodiversidade e dos serviços de ecossistemas; Percurso das espécies invasoras; Percurso dos líquenes, bioindicadores da qualidade do ar; Percurso de estudos de fitossociologia. Nestes percursos pretende-se, sobretudo, fornecer pistas geradoras de um processo investigativo a desenvolver com base em questões formuladas pelos alunos.

No sentido de facilitar a utilização continuada do LEP, pelas escolas da proximidade, a Junta de Freguesia do Bonfim promoveu a compra dos materiais necessários ao trabalho investigativo, nomeadamente microscópios e lupas binoculares, material de laboratório e outro material de apoio que se encontra disponível para o trabalho de professores utilizadores do LEP, em edifício multiusos (FIGURA 2) que é parte integrante do Parque.


FIGURA 2. Edifício multiusos (vistas exterior e interior) para atividades experimentais em área coberta.

De acordo com o exposto e sendo fundamental que os alunos aprendam a compreender a Natureza, de forma direta, com conhecimento do impacto das decisões antrópicas na dinâmica ambiental, e adquiram verdadeiras competências favoráveis ao desenvolvimento sustentável, o LEP assume a importância de um espaço inovador de excelência no contributo para a ação educativa nos moldes pretendidos pela nova revisão curricular (DL 55/2018) e capaz de educar para as exigências do século XXI.

Em conclusão, o Laboratório Escolar da Paisagem do Parque das Águas oferece diferentes possibilidades de trabalho em contexto educativo e constitui um importante primeiro passo no apoio comunitário de que as escolas necessitam para enfrentarem, com sucesso, os desafios educativos de uma sociedade em plena evolução e com as condicionantes da inserção em meio urbano. Espera-se que esta iniciativa seja valorizada e rentabilizada para um ensino inclusivo de qualidade e que venha a ser replicada em outros locais do país, em jardins e parques públicos com potencialidades educativas, contando com o apoio de autarquias e de empresas públicas e privadas.