A Comunicação da Matemática
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- Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Referência Rodrigues, J. R., (2022) A Comunicação da Matemática, Rev. Ciência Elem., V10(3):035
DOI http://doi.org/10.24927/rce2022.035
Palavras-chave
Entrados na Era Digital, os meios que os cientistas dispõem para a investigação, para a publicação e para a disseminação das suas pesquisas, das suas descobertas e das suas previsões, estão a modificar e a aumentar o ritmo do progresso no Conhecimento. Certamente que os matemáticos, por muito que estejam embrenhados nas abstrações das suas teorias ou nas interações com o mundo real dos seus modelos, não são alheios a este facto.
A disseminação das Ciências Matemáticas pelos seus cultores e praticantes pode ser dividida em três tipos: a comunicação da Matemática interpares, através da publicação em livros ou revistas científicas, da correspondência, individual ou em fóruns digitais, e ainda em seminários, encontros e congressos, presenciais e, agora, também de forma remota; a comunicação da Matemática às novas gerações, através dos professores, dos textos e do ensino a vários níveis, onde os novos métodos eletrónicos e digitais não dispensam a assimilação cumulativa do conhecimento matemático; e, finalmente, a comunicação da Matemática à sociedade de um modo geral, seja a popularização junto do grande público, seja a sensibilização dos decisores e dos políticos para a sua importância atual e alcance futuro.
A Casa das Ciências e a Revista de Ciência Elementar, que já vai no décimo volume, tem vindo a consolidar a sua importante missão de transmitir e divulgar os conceitos científicos numa linguagem elementar e rigorosa, procurando uma visão crítica da realidade atual, não descurando os projetos escolares de sucesso, contribuindo assim para a comunicação da Ciência às novas gerações, incluindo, naturalmente, a Matemática. É disto exemplo, neste número, o artigo sobre Vírus, Poliedros, Arquitetura e ... Matemática, não só pelo seu aspeto interdisciplinar, bem patente no título, mas sobretudo por chamar a atenção dos poliedros e a importância crucial da Matemática na nossa conceção de espaço. Também a Imagem em destaque que selecionei, um belíssimo cristal de diamante com uma forma octaédrica natural, numa fotografia feita com o meu velho iPhone durante uma visita memorável ao Museu de História Natural de Paris em abril de 2017, pode ser um instrumento e uma motivação ao estudo interdisciplinar da Geometria Espacial. E também a imagem da capa deste número não foge à tradição da Revista em contribuir para a divulgação científica, neste caso da galeria das 45 superfícies cúbicas caraterizadas num teorema de Geometria Algébrica provado em 1987 e colocadas, apenas um quarto de século mais tarde, em impressões 3D na exposição Formas e Fórmulas, que esteve exposta no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, entre 2012 e 2016, e cujo catálogo se encontra no ciberespaço.
A Revista de Ciência Elementar retoma a secção das biografias de cientistas com a evocação biográfica do mais influente Matemático português do século XX, José Sebastião e Silva, que teve uma influência determinante na modernização do Ensino da Matemática. E vem a propósito recordar o que Sebastião e Silva escreveu sobre a introdução das matemáticas modernas no ensino secundário, num relatório em francês reproduzido na Gazeta de Matemática de 1962: Pensamos que estas inovações devem ser executadas com uma prudência extrema e com o mais fino tato pedagógico, se não queremos criar nos alunos uma repulsa invencível pelas matemáticas ou conduzi-los à aquisição de um formalismo vazio, absolutamente esterilizante. Com efeito, a orientação moderna das matemáticas é uma espada de dois gumes segundo o uso que dela se faz: pode tornar o ensino mais atrativo e muito mais eficaz; mas, mal aplicado, pode também conduzir a resultados quase opostos.
Num momento em que a evolução pendular recente do ensino da Matemática em Portugal, entre o eduquês e o matematiquês, não parece estar ainda a estabilizar, torna-se imperioso encontrar a síntese da didática das matemáticas e proporcionar, a par da formação geral dos jovens, formas de estimular o interesse científico e complementar a aprendizagem matemática daqueles que estão abertos e dispostos a ir mais longe.
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