Pigmentos, cor, vida
📧
- U. Aveiro
Referência Claro, P. R., (2023) Pigmentos, cor, vida, Rev. Ciência Elem., V11(2):015
DOI http://doi.org/10.24927/rce2023.015
Palavras-chave
A imagem de capa deste fascículo da Revista de Ciência Elementar é uma das obras mais famosas de Johannes Vermeer (1632–1675), inicialmente conhecida por Rapariga com turbante, mas popularizada como Rapariga com brinco de pérola — provavelmente pelo impacto visual desse ponto brilhante no centro da imagem. Na verdade, admite-se hoje ser pouco provável que se trate de uma pérola: dadas as dimensões e os reflexos pintados por Vermeer, deverá tratar-se de uma esfera de vidro ou, talvez, de prata.
Mas o motivo da escolha não teve nada a ver com a história desta obra, resultou apenas de uma impressão forte de que “esta imagem daria uma boa capa”! Uma impressão difícil de descrever, mas que eu associo à riqueza de cor que a imagem transmite… Apesar de haver apenas um elemento de cor dominante, o turbante azul. E foi a partir daqui surgiu o tema para esta edição: a cor e os pigmentos que nos rodeiam.
Um dos pigmentos azuis famosos na história da arte é o Azul Egípcio (não o azul do quadro de Vermeer, que usou “Azul Ultramarino”, um pigmento baseado na gema semi-preciosa Lápis Lazúli — mas isso merece um outro artigo completo). O Azul Egípcio tem um percurso algo rocambolesco: de primeiro pigmento sintético conhecido e amplamente usado até ao início da Idade Média, a pigmento perdido durante séculos, depois “ressuscitado” no século XX, e atualmente com interesse renovado pela emissão intensa na região do infravermelho — ou seja, pelo seu brilho invisível a olho nu. Uma história contada num artigo convidado para este fascículo.
O tema é naturalmente o centro da secção Notícias, para a qual escolhi desenvolvimentos científicos recentes em torno do conceito de beleza, com a sua natureza subjetiva, mas associada a uma base possivelmente objetiva, da criação de corantes inovadores (a possibilidade de usar “corantes estruturais” em aplicações práticas quotidianas merece uma leitura), e do tratamento computacional de imagens, que tem na codificação matemática das cores um elemento essencial.
O tema encerra com a Imagem de Destaque, para a qual selecionei uma fotografia obtida num mercado — mas não num mercado qualquer. Um mercado na Índia, país descrito como um país de cores simbólicas. E, nas palavras da autora desta fotografia, “não conheci nunca sítio mais explosivo, em sons, odores, cores e movimento, do que um mercado indiano”. A ver!
Os restantes artigos deste fascículo refletem o contributo de vários autores e, portanto, abordam vários temas. Numa zona de fronteira entre a química e a biologia, o trabalho Biominerais desvenda os mecanismos complexos de formação de estruturas sólidas cristalinas, análogas a verdadeiros minerais, mas produzidas exclusivamente por processos biológicos. A batata-doce, originária da América Central e do Sul, constitui, desde há milénios, parte da dieta alimentar dos seres humanos. No texto Batata-Doce ficamos a saber mais cerca desta espécie dicotiledónea da Família das Convolvuláceas. Os dois textos seguintes, Biopesticidas e Agricultura biológica vs Agricultura orgânica abordam temas de impacto atual, com contributos que considero muito relevantes para esclarecimento dos termos, da realidade e dos mitos, das opções disponíveis, assim como dos desafios para a investigação e perspetivas futuras. Para quem nunca ouviu falar de celulose bacteriana, pode ficar a conhecer algumas das suas aplicações, descritas em Perfuração da membrana timpânica — aqui talvez eu não seja totalmente imparcial nesta análise, mas este é mais um trabalho onde a química, através dos novos materiais, se cruza com as ciências da saúde. Como curioso da geologia, li com muito agrado os dois textos seguintes, Rochas sedimentares e metamórficas e Rios temporários. O primeiro aborda um tema que me fascina desde muito jovem, quando me ajudou a compreender a origem daquelas estruturas rochosas em camadas, tão frequentes nas nossas praias. Dos rios temporários podemos dizer o mesmo que de Santa Bárbara: infelizmente, só nos lembramos deles quando troveja — ou quando chove copiosamente — com as consequências conhecidas! O último texto deste fascículo faz parte da série Aos olhos da Ciência e traz-nos o segundo episódio de uma viagem pelo oceano Índico — talvez para ler a pensar nas férias que se aproximam.
Recordo que textos na edição impressa da revista estão limitados no seu número de páginas por opção editorial, mas a versão completa dos mesmos pode ser encontrada na edição digital, disponível no portal da Casa das Ciências.
Este artigo já foi visualizado 2982 vezes.