O Pantanal, um vasto ecossistema de zonas úmidas localizado na América do Sul, é o maior do tipo em regiões tropicais e se estende por partes do Brasil, Bolívia e Paraguai. Este bioma apresenta características únicas que reúne uma biodiversidade esplêndida, com muitas espécies resilientes ao chamado “Pulso de Inundação” das águas pantaneiras1. Esse fluxo de águas, ora garantindo o ambiente inundado, ora com ele bastante seco, atua em um significativo fluxo de entrada e saída de carbono2.



O ciclo de carbono no Pantanal é influenciado por diversos fatores, principalmente considerando a complexidade que é o bioma. No Pantanal são encontrados diferentes compartimentos ambientais, incluindo a vegetação aquática e terrestre, os solos e os corpos d’água. É certo que esses tipos de ambientes existem em vários outros biomas, mas no Pantanal há uma situação bastante peculiar (FIGURA 1). Durante os meses de outubro a março, as chuvas transformam o Pantanal em um imenso reservatório de água, que lentamente drena entre abril e setembro3. Esta dinâmica hidrológica não apenas sustenta a rica biodiversidade local, mas também promove a captura e o armazenamento de carbono através das plantas e do solo saturado2.


FIGURA 1. Desenho exemplificando os períodos conhecidos como cheia e estiagem no Pantanal. À esquerda o ambiente se caracteriza com grande quantidade de água, favorável ao crescimento de plantas aquáticas e maior escoamento de água, principalmente para as áreas conhecidas como várzeas, onde estão várias árvores e arbustos. Já à direita está demonstrado o ambiente seco, com o solo rachado e plantas perdendo as folhas e/ou mortas após o período de estiagem. (Esta figura foi construída com auxílio de Inteligência Artificial)

De fato, os ecossistemas aquáticos do Pantanal são particularmente importantes para o ciclo do carbono, pois as áreas inundadas promovem uma interação intensa entre a água e o carbono orgânico e inorgânico. Além disso, as vastas pastagens e florestas do Pantanal sequestram grandes quantidades de carbono, principalmente nos períodos de crescimento, e devolvem este carbono na decomposição da biomassa4.

Especificamente, as plantas aquáticas e terrestres do Pantanal absorvem o Dióxido de Carbono (CO2) da atmosfera durante o processo de fotossíntese. Este carbono é armazenado e usado pelas plantas para crescer e se desenvolver5 e, posteriormente, nos solos quando essas plantas morrem e se decompõem e o carbono não é mineralizado6.

Tanto a respiração das plantas e animais quanto a decomposição de matéria orgânica liberam carbono de volta para a atmosfera como dióxido de carbono. Esse processo é intensificado em períodos de seca, quando a oxidação da matéria orgânica é mais prevalente e a temperatura é mais alta7. Durante as inundações sazonais, o carbono pode ser transportado para outras regiões através da água e depositado nos sedimentos em áreas mais baixas do Pantanal, onde pode ser armazenado por longos períodos ou liberado através da produção de metano em condições de baixas concentrações de oxigênio8. A água que escoa do Pantanal carrega consigo carbono orgânico e inorgânico dissolvido para rios maiores, e eventualmente para o oceano9.

Desta forma, o ciclo do carbono no Pantanal pode ser caracterizado de acordo com sua entrada e saída.


Entrada.

Fotossíntese realizada por plantas e algas para o crescimento e produção de biomassa. As plantas lenhosas estocam o carbono, e a biomassa, quando enterrada ou sob condições baixas de oxigênio da água, pode ser acumulada no solo ou nos sedimentos formando várias camadas10. As diferentes condições hidrológicas também causam alterações no modo como as plantas absorvem Carbono e estocam11.


Saída.

A decomposição da matéria orgânica, principalmente em contato com o oxigênio acelera a produção de dióxido de carbono, o qual fica dissolvido na água (quando em ambiente hídrico) e sai para a atmosfera quando o ambiente fica totalmente saturado12. Essa saída pode ser feita em forma de gases dissolvidos, através da planta como um conduíte do sedimento para a atmosfera13, mas também em formas de bolhas de metano (CH4)4. Interessante saber que as plantas aquáticas formam um escudo para que as bolhas não saiam diretamente para a atmosfera4 e parte do CH4 é consumido por um imenso microbioma presente nas raízes das plantas14. Quando no solo, a decomposição e mineralização do carbono é mais rápida e é liberado para a atmosfera principalmente em forma de CO215, mas também pode ocorrer em forma de CH416.

Neste ambiente único, com características singulares, o ciclo do carbono deve ser compreendido para que haja maiores possibilidades de conservação, principalmente porque o carbono é responsável pela regulação climática. Aprofundar o conhecimento sobre como o carbono é absorvido, armazenado e liberado nesses ecossistemas não só ajudará a mitigar os efeitos adversos das mudanças climáticas, mas também sustentará a biodiversidade local e melhorará a qualidade de vida das comunidades que dependem desses ambientes naturais. A pesquisa focada e as políticas informadas são fundamentais para garantir que as práticas de conservação sejam eficazes em busca da sustentabilidade ambiental local e global.