Baseado no modelo de dupla hélice proposto por Watson e Crick, em 1953, de que resulta a ideia de emparelhamento das bases do DNA (complementaridade das bases) é avançada a hipótese de que o DNA tem a capacidade de se auto-duplicar. Este processo sabe-se hoje ser semiconservativo – hipótese semiconservativa – isto é, cada uma das novas molécula de DNA resultantes de replicação é constituída por uma cadeia proveniente da molécula original de DNA que serviu de molde e por uma cadeia complementar anti-paralela sintetizada de novo.

Outros investigadores sugeriram modelos alternativos: a hipótese conservativa admitia que a molécula de DNA original se mantinha, servindo apenas de molde para a formação de uma nova molécula formada por duas novas cadeias de nucleótidos; a hipótese dispersiva, por seu lado, admitia que as novas moléculas de DNA teriam cadeias formadas por porções da molécula inicial e por porções sintetizadas de novo.


Figura 1. Modelos explicativos do processo de replicação do DNA
Figura 1. Modelos explicativos do processo de replicação do DNA

Em 1956, Arthur Kornberg demonstrou que era possível replicar a molécula de DNA em laboratório, i.e., no exterior da célula. Para esta replicação in vitro é necessário para além da molécula de DNA parental, a enzima polimerase do DNA e os quatro tipos de nucleótidos (adenina, citosina, timina e guanina) que formam este ácido nucleico.

Embora Watson e Crick tivessem postulado sobre a replicação semiconservativa das cadeias de DNA e de Kornberg ter replicado em laboratório moléculas de DNA, só em 1958 com as experiências de Matthew Meselson e Franklin Stahl (através da marcação do DNA com um isótopo de azoto pesado 15N) se esclareceu o mecanismo de replicação do DNA.


As experiências de Meselson e Stahl

Meselson e Stahl cultivaram bactérias Escherichia coli num meio de cultura enriquecido com um isótopo pesado de azoto 15N, em vez do usual 14N mais abundante e com menor massa. Devido às suas diferentes massas estes dois isótopos podem ser separados por centrifugação, o que permitiria aos investigadores separar moléculas de DNA que incorporassem diferentes isótopos. As bactérias E. coli cresceram durante várias gerações no meio com 15N e após extração do DNA destas células, e centrifugação do mesmo, verificaram que tinha densidade superior ao DNA de bactérias a crescer em meio contendo 14N. Numa segunda fase, bactérias E. coli originalmente a crescer em meio com 15N foram transferidas para um meio com 14N, permitindo-se que realizassem apenas uma divisão celular, com a replicação correspondente do seu DNA. Novamente, o DNA foi extraído e centrifugado. Quando compararam as densidades dos três grupos de DNA extraídos (14N, 15N e 15N - 14N) verificaram que a densidade do DNA das bactérias que tinham crescido nos dois meios (primeiro em 15N e depois 14N) era intermédio do DNA de E. coli cultivado apenas em meios simples de 14N ou 15N (densidade do DNA extraído: 14N DNA < 15N - 14N DNA < 15N DNA). Estes resultados punham de parte a hipótese conservativa de replicação em que se esperaria metade do DNA com densidade equivalente à do 14N e a outra metade com densidade equivalente à do 15N, no entanto, quer a hipótese dispersiva quer a semiconservativa poderiam ser explicadas à luz destes resultados. Se a replicação fosse semiconservativa esperar-se-iam cadeias duplas de DNA com uma cadeia 15N e outra 14N, e se fosse dispersiva ambas as cadeias de DNA teriam uma mistura de 14N e 15N, apresentando nos dois casos densidades intermédias com valores semelhantes.

Para averiguar qual das duas hipóteses explicava a replicação do DNA os dois investigadores extraíram DNA de colónias de E. coli que tinham crescido durante várias gerações em meio com 15N e durante apenas duas divisões em meio com 14N. O DNA extraído consistia em duas porções equivalentes mas de densidades diferentes. Uma correspondia às células que se tinham dividido nos dois meios e, por isso, com uma densidade intermédia e a outra com menor densidade, correspondia às células que se tinham dividido exclusivamente no meio com 14N. Estes segundos resultados eliminariam a hipótese dispersiva onde se esperaria apenas um único grupo de DNA com a mesma densidade, onde as cadeias formadas teriam várias porções de ambos os isótopos.


Como se processa a replicação do DNA

Depois de se identificar o modelo de replicação do DNA, o passo seguinte foi investigar como decorre o processo. Cada cadeia de DNA parental servirá de molde à formação de uma nova cadeia complementar (rever regra de complementaridade das bases azotadas) utilizando os nucleótidos livres no nucleoplasma de cada célula. O resultado final são duas novas moléculas de DNA de cadeia dupla idênticas entre si, com uma cadeia original e outra complementar recém sintetizada.

O processo de replicação dá-se de forma bidirecional, isto é, para ambos os lados da origem, sendo as duas cadeias de DNA sintetizadas em simultâneo. As cadeias complementares são sintetizadas em direção antiparalela à da cadeia molde, no sentido 5’ – 3’ e de forma semi-descontínua, i.e., as cadeias filhas não se formam da mesma maneira: uma cresce de modo contínuo, a cadeia líder (do inglês leading strand) que é complementar à cadeia 3’ – 5’, e a outra cresce pela adição de fragamentos, a cadeia atrasada (do inglês lagging strand), que é complementar à cadeia 5’ – 3’ (ver esquema).


Esquema representativo da replicação.
Esquema representativo da replicação.

O processo de replicação envolve a participação de várias enzimas, que possibilitam o desenrolar da dupla hélice da molécula de DNA, a separação das suas cadeias e a construção das novas cadeias. Entre elas podemos destacar as polimerases do DNA e as ligases do DNA.

As polimerases do DNA são enzimas responsáveis:

- pela formação de ligações por pontes de hidrogénio entre as bases complementares (A com T e G com C),

- pela ligação do açúcar de um nucleótido com o fosfato do nucleótido seguinte – extremidade 3’ da pentose,

- pela correção de erros na sequência nucleotídica.


As ligases do DNA são responsáveis por:

- ligar os vários fragmentos – fragmentos de Okazaki, que se formam de modo descontínuo na cadeia filha complementar à cadeia parental 5’ - 3’.


A replicação desenrola-se em 3 etapas: iniciação, elongação e terminação.

O mecanismo de replicação, embora comum a todos os organismos, sejam eles eucariotas ou procariotas, apresenta grandes diferenças no processo. Nos procariotas, a replicação inicia-se num único ponto da cadeia polinucleotídica e prossegue até terminar, porque nestes organismos apenas existe uma molécula de DNA e o seu comprimento é muito menor que o do DNA eucariota.

Nas células eucariotas a replicação do DNA ocorre, em simultâneo, em múltiplos locais específicos da cromatina (origens de replicação, são sequências ricas em A-T), catalisada pelas polimerases do DNA. A molécula de DNA, começa a desenrolar por ação das enzimas topoisomerases e das helicases, e a desnaturar ao nível das origens de replicação. Para as polimerases do DNA iniciarem a condensação dos nucleótidos percursores (de acordo com a sequência nucleotídica da cadeia simples de DNA molde) é necessária a síntese de um pequeno fragmento de RNA (designado por iniciador, primer) catalisada por uma polimerase do RNA específica, a primase (uma subunidade da polimerase do DNA a).

A polimerização das novas cadeias de DNA ocorre de forma bidirecional, a partir de cada origem de replicação, formando-se a forquilha de replicação (do inglês ‘replication fork’, ver figura) que se deslocam em direções opostas. Em cada braço da forquilha de replicação a polimerização ocorre no sentido 5’-P – 3’-OH, na cadeia líder de forma contínua e na cadeia atrasada de forma descontínua, com a formação de fragmentos, os fragmentos de Okazaki, a partir de iniciadores de RNA. Posteriormente, os segmentos de iniciadores de RNA são removidos e uma polimerase do DNA sintetiza em seguida DNA que preenche as regiões inicialmente ocupadas pelos iniciadores. A continuidade das cadeias recém sintetizadas é assegurada por uma ligase do DNA que catalisa a formação de ligações fosfodiéster entre os vários fragmentos.


Como se evitam os erros na síntese das novas cadeias

Para evitar que erros que possam ter ocorrido durante a síntese permaneçam nas novas cadeias de DNA replicadas, existe uma auto-correção ao longo do processo. A primeira verificação ocorre antes de cada novo nucleótido ser adicionado à cadeia. Cada nucleótido correto tem maior afinidade com a polimerase do DNA que um nucleótido incorreto, uma vez que apenas o correto emparelha no par da base complementar. Depois da adição de um nucleótido, e antes de este formar ligações covalentes com a cadeia de DNA em formação, a enzima sofre uma alteração conformacional. Mais uma vez a presença do nucleótido errado será possivelmente detetada e o mesmo dissocia-se da cadeia. Pode, no entanto, acontecer que o nucleótido incorreto passe esta primeira verificação mas neste caso a polimerase do DNA é impossibilitada de prosseguir. Num destes raros casos o nucleótido inserido incorretamente é retirado da cadeia pela atividade exonucleásica da polimerase do DNA 3’ – 5’. Esta capacidade de auto-correção permite que não ocorram erros durante o processo de replicação, assegurando a perfeita complementaridade das bases.


Esquema de correção de erros ocorridos durante a replicação.
Esquema de correção de erros ocorridos durante a replicação.

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