A disciplina de Física e Química é uma das disciplinas à qual é apontado o epíteto de “difícil”, logo desde o 3.º ciclo, sendo muitas vezes esse o alibi para que os alunos não se envolvam ou não sejam muito envolvidos no trabalho de sala de aula. No entanto, para demonstrar que a par do empenho e trabalho que a disciplina exige, a motivação tem de estar presente, é possível apresentar aos alunos situações que lhes permitam ser criadores de recursos e assim aprender de forma mais envolvida.

A tecnologia tem vindo a transformar, quer o trabalho em sala de aula, quer a forma como alunos e professores trabalham em casa, o que é confirmado por estudos nacionais e internacionais. Em Portugal essa transformação também ocorreu e, mais recentemente a adesão, por parte de todos os agentes educativos à utilização de dispositivos móveis veio tornar o uso da tecnologia mais ubíquo. Se os alunos do século XXI são considerados como tendo alguma expertise na utilização da tecnologia, o que a prática demonstra é que essa perícia não existe quando se refere a aplicação educativa.

Competirá, assim, ao professor estimular os alunos para olocarem a potencialidade dos seus dispositivos móveis ao serviço da aprendizagem. Se numa grande parte das escolas, a utilização do telemóvel, smartphone ou tablet está interdita em situação de sala de aula, isso não deverá constituir, no entanto, impedimento para que o recurso à tecnologia no processo de ensinar e aprender ocorra.

Nesse sentido, foi proposto a alunos de 7.º e de 8.º ano a elaboração de vídeos com a ferramenta gratuita da web 2.0 Powtoon® para aprendizagem dos conteúdos Importância da água para a vida e Tipos de reações químicas e Velocidade das reações químicas no 7.º e no 8.º ano, respetivamente. Foi objetivo ensaiar-se uma diferente abordagem dos temas referidos como alternativa a aulas mais expositivas ou à elaboração de trabalhos escritos em suporte papel ou ppt, habitualmente mais estáticos.

O Powtoon® é considerado uma excelente ferramenta1 de criação de vídeos (ou apresentações) animados por ser uma das mais completas no que respeita às ilustrações, imagens animadas, música ou transições animadas que permite. A versão utilizada foi a versão grátis individual, mas existe a possibilidade de subscrever uma conta educação que pode ser utilizada por todos os alunos da turma.2

Se, no início os alunos demonstraram alguma relutância no recurso a essa ferramenta e alguma perplexidade e dificuldade em perceber o seu funcionamento, com a imersão na ferramenta foi possível satisfazer o solicitado.

Para que o produto final apresentasse rigor científico e valor pedagógico, foi proposto que os alunos escrevessem primeiramente um guião sobre como o tema seria desenvolvido na ferramenta web 2.0. No entanto, verificouse uma certa tendência em não cumprir este requisito bem como o da revisão final antes da publicação do recurso criado – vídeo – na web. Terá de ser feito um maior esforço por parte do docente no sentido de convencer os alunos de que o produto final, porque pode ficar acessível a todos, deverá apresentar-se cientificamente correto.

Apresentam-se capturas de ecrã dos recursos desenvolvidos no 7.º ano (Figura 1) e no 8.º ano (Figura 2), que revelam algumas das opções dos alunos na construção dos seus vídeos.

Esta forma de aprender foi considerada interessante e divertida pelos alunos que a ela se dedicaram e que por ela optaram.

Há, no entanto, ainda muito trabalho a fazer para colmatar dificuldades encontradas (relutância em fazer mais um “TPC”), resistência no recurso ao computador e nítida preferência pela utilização de app em dispositivo móvel (a indisponibilidade de uma app para os sistemas operativos dos dispositivos móveis dos alunos, foi invocada para a não elaboração do recurso).

Figura 1. Capturas de ecrã de recursos de 7.º ano.

A integração da tecnologia na sala de aula continua a ser uma tendência em educação de acordo com o documento Trends Shaping Education 20163. Também de acordo com o relatório Efforts to increase students’ interest in pursuing science, technology, engineering and mathematics studies and careers National Measures taken by 30 Countries – 2015 Report4, todos os países participantes – entre os quais Portugal – priorizam iniciativas de integração das TIC na educação pelo que o tipo de abordagem pedagógica por nós descrita parece estar em linha com estas tendências.

Por conseguinte, pensamos ser premente a facilitação de condições que permitam ao professor de Física e Química envolver mais os alunos em atividades práticas de integração da tecnologia no processo de ensinar e aprender.

Figura 2. Capturas de ecrã de recursos de 8.º ano.