A Galeria da Biodiversidade é acolhida por um dos mais icónicos edifícios da cidade, a Casa Andresen, em pleno Jardim Botânico do Porto. Aí viveram ou passaram partes importantes das suas vidas os escritores Ruben A. e Sophia de Mello Breyner Andresen. E foi precisamente Sophia que no seu livro Histórias da Terra e do Mar descreveu a impressão que lhe causava o enorme átrio da casa, para onde davam todas as divisões, e que tão grande era que aí se poderia montar o esqueleto da baleia cujos ossos jaziam abandonados nos corredores do então edifício da Faculdade de Ciências. Hoje, a poucos dias da abertura, o sonho de Sophia concretizou-se e o esqueleto da magnífica baleia emerge no átrio da Casa Andresen e é precisamente o mote que dá origem a toda a narrativa da Galeria da Biodiversidade.

Figura 1. Esqueleto de baleia no átrio da Casa Andresen.

Aquilo que em breve poderemos visitar é uma viagem pela vida. Mas é também um cruzamento entre arte e ciência, em que a exuberância e a beleza de cada objecto ou de cada instalação nos convoca primeiro para uma demorada contemplação, e depois para a compreensão do que se procura transmitir. Por outro lado, a visita decorre num edifício que foi cuidadosamente recuperado e que agora pode ser apreciado em todos os seus detalhes.

O piso superior da Galeria da Biodiversidade é integralmente dedicado à exposição permanente. Nele começaremos por apreciar os objectos e os módulos interactivos associados que nos irão transmitir os argumentos fundamentais que justificam a necessidade de conservar a diversidade biológica e de assegurar um planeta mais sustentável. Falar-se-á, assim, da beleza do mundo natural, da ética associada à conservação das espécies, da sua importância económica, e ainda da sua relevância científica. Depois, os visitantes poderão desfrutar deste espaço único, escolhendo uma visita mais contemplativa ou, se o preferirem, um conjunto de narrativas que respondem às questões fundamentais sobre a natureza da vida. O que é a selecção natural ou a selecção sexual, como se originam as espécies, como nos deslocamos ou como vemos o mundo, o que é a domesticação de animais e plantas e qual a sua importância, porque têm as folhas das árvores formas tão diferentes e o que é, afinal, a forma, como mostraram os Descobridores Portugueses tantos animais e plantas diferentes ao mundo, ou como evoluiu a espécie humana nos últimos milhares de anos são apenas algumas dessas questões que a Galeria da Biodiversidade trata de uma forma original e certamente muito apelativa para todos os tipos de públicos.

No piso intermédio está o grande átrio que Sophia descreve de forma tão bela e onde imagina a baleia que agora todos os visitantes poderão contemplar. Esse é o piso onde se localiza a entrada, a loja, todo o tipo de informações sobre a agenda da Galeria, do futuro Museu e, de uma forma geral, da Universidade e da cidade, e onde poderemos ainda ver exposições temporárias já programadas até ao Verão de 2018. Finalmente, no piso térreo estará localizada a cafetaria bem como os espaços destinados a múltiplas actividades que, no futuro, irão relacionar a Galeria da Biodiversidade com o Jardim Botânico, e os gabinetes de trabalho de todas as pessoas que irão assegurar o seu funcionamento.

A próxima abertura da Galeria da Biodiversidade, no Jardim Botânico do Porto, marcará de forma muito especial o projecto de recuperação do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. Em primeiro lugar, porque irá dinamizar toda a zona do Campo Alegre, relacionando-se naturalmente com o Campus da Faculdade de Ciências e, certamente, com o Planetário do Porto, também ele ligado à Ciência Viva. Em segundo lugar porque antecipa os trabalhos já em curso no Edifício Histórico dos Leões, cuja porta deverá abrir durante 2018 para mostrar já uma parte do espólio que se encontra actualmente em processo de recuperação e valorização. Finalmente, porque se trata de uma iniciativa única ao juntar um Museu de cariz universitário com um Centro Ciência Viva.

A Galeria da Biodiversidade vai abrir no final do mês de Junho. Esta abertura será o início da devolução às pessoas do Porto e a todos os cidadãos do Museu de História Natural e da Ciência, que encerrou há décadas. Será também o início de um novo projecto cultural de grande dimensão na cidade, na região e no país.