Ensino experimental e problemas ambientais
Reutilização de velhas propostas para a compreensão de novos problemas
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- * ESECS/ Politécnico de Leiria
- ɫ ESECS/ Politécnico de Leiria
Referência Oliveira, M., Santos,O., (2018) Ensino experimental e problemas ambientais, Rev. Ciência Elem., V6(3):060
DOI http://doi.org/10.24927/rce2018.060
Palavras-chave atividades práticas, atividades experimentais, educação ambiental, reutilização de materiais, resíduos
Resumo
O estudo de alguns dos principais problemas ambientais da atualidade, acompanhado de atividades práticas/experimentais em contextos diversos, realizadas com rigor de concepção e execução, pode traduzir-se, em benefícios ao nível da literacia científica, da compreensão dos processos subjacentes aos problemas em análise, bem como dos comportamentos a adotar, numa perspetiva de cidadania ambiental mais profícua.
Problemas ambientais como deslizamentos de terrenos, erosão de solos, contaminação dos recursos hídricos, solos ou ar, marés negras, entre outros, tem-se agravado como consequência da atividade antrópica. Muitos destes fenómenos/processos são objeto de estudo no ensino formal, em abordagens essencialmente teóricas, subestimando-se o contributo de atividades práticas/experimentais complementares para o aumento da literacia científica dos alunos11, 6, 10 e melhoria da compreensão dos processos envolvidos nos respetivos fenómenos, suas causas e consequências. O trabalho experimental no ensino da ciência desde os primeiros anos de escolaridade, constitui um importante processo de desenvolvimento de competências de pensamento, comunicação oral e linguagem escrita, decorrentes da componente reflexiva que o acompanha11.
A realização de atividades de índole prática5, ao envolver diretamente as crianças8, 2, 10 assume extrema importância para o desenvolvimento do seu pensamento e competências.
A realização de trabalho prático/experimental no âmbito de projetos e atividades de educação ambiental, realizados dentro e/ou fora de portas, potenciará a compreensão dos processos/fenómenos a estudar, possibilitando, ainda, a reutilização de materiais do quotidiano (substituindo material de laboratório, mais escasso e caro), sem inviabilizar o rigor cientifico.
A educação ambiental dedicada ao litoral envolve anualmente milhares de participantes em atividades de campo, no âmbito das quais é possível constatar e registar a enorme quantidade e diversidade de plásticos existentes nas praias (FIGURA 1), cujo conhecimento e impactos ambientais normalmente se negligência.
Também os plásticos à deriva no mar – e nos rios – constituem um problema ambiental gravíssimo, dada a sua perigosidade para os organismos9. Conhecer e identificar os diferentes tipos de plásticos recolhidos numa saída de campo, bem como perceber o seu comportamento no meio hídrico, são objetivos que mais facilmente se podem alcançar recorrendo à realização de atividades experimentais. Reutilizando copos de iogurte em vidro, idênticos, em substituição de material laboratorial específico (copos de Becker, por exemplo) é possível avaliar o comportamento de distintos tipos de plásticos recolhidos quando mergulhados em água doce, salobra ou salgada, uma vez assegurado o controlo das variáveis envolvidas; permite, também, identificar diferentes tipos de plástico, observando o procedimento proposto na FIGURA 2, o qual potencia posteriormente a investigação sobre algumas das suas propriedades, utilizações e possibilidades de reutilização/valorização, com os benefícios ambientais, económicos e sociais daí resultantes.
A preparação de visita de estudo a uma ETAR, recorrendo a atividades experimentais sobre flutuação envolvendo líquidos, também permite perceber melhor e refletir sobre as consequências técnicas, ambientais e económicas da incorreta rejeição de óleos alimentares usados, por exemplo, potenciando a melhoria de comportamentos dos cidadãos em termos ambientais. O mesmo se aplica à compreensão do comportamento dos hidrocarbonetos em meio hídrico, resultantes de acidentes com petroleiros e/ou explorações petrolíferas.
A compreensão da influência da vegetação, declive, teor de humidade, entre outros fatores, na erosão e deslizamento de solos, pode ser promovida pela realização de atividades práticas/experimentais, com materiais do quotidiano7. Importa, todavia, salientar que as atividades práticas/experimentais associadas a distintos contextos exigem rigoroso controlo das variáveis em presença, sob risco de se desvirtuar quer o processo em si mesmo, quer a correta compreensão dos processos e fenómenos em estudo.
Em suma, as problemáticas ambientais revelam um enorme potencial para desenvolvimento de atividades práticas/experimentais associadas a factos e materiais do quotidiano, e a educação em ciências pode assumir um papel de relevo, pelo seu valor formativo, para o desenvolvimento de cidadanias informadas e de sociedades mais sustentáveis, numa perspetiva de igualdade de oportunidades3.
Referências
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