A Tabela Periódica é reconhecidamente “uma das realizações mais significativas na ciência, capturando a essência não só da química, mas também de física e biologia” (www.iypt2019.org/). Pelas suas características e ampla divulgação, tornou-se também um ícone da ciência – a sua forma mais comum (a forma compacta, que separa o bloco f, ou das “terras raras”) é facilmente reconhecida por uma parte significativa da população. Aliás, na sua resolução 39C/60, a UNESCO salienta que “a celebração do 150º aniversário da Tabela Periódica dos elementos químicos em 2019 fornece uma oportunidade para destacar a natureza contínua da descoberta científica em diferentes contextos, com especial ênfase na promoção da ciência educação em todos os níveis entre jovens” (unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000259915).

E este é o ponto que pretendo salientar aqui. Tal como sucedeu com os anos internacionais da Física (2005), da Astronomia (2009), da Química (2011) e da Luz (2015), o Ano Internacional da Tabela Periódica constitui um excelente pretexto para promover o interesse pela ciência e a cultura científica do cidadão comum. E é também uma enorme oportunidade para dinamizar as atividades das escolas e estimular o interesse pela ciência entre os jovens estudantes.

O desafio é particularmente feito às escolas, às universidades e às sociedades científicas. A Sociedade Portuguesa de Química assumiu a tarefa de promover um conjunto diversificado de atividades em torno do tema – e aqui recomenda-se a consulta da página oficial do Ano Internacional da Tabela Periódica em www.iypt2019.org/. No entanto, esta ligação forte à química não é uma ligação exclusiva. Dificilmente se encontrará um tema tão transversal às Ciências como a Tabela Periódica, um tema em que seja tão fácil envolver a química, a física, a biologia, a geologia, a matemática… E, querendo eu deixar este desafio aos leitores, abracei-o também para este fascículo da Revista: torná-lo um fascículo temático de celebração do Ano Internacional da Tabela Periódica.

A Revista de Ciência Elementar vive dos contributos dos autores (e aproveito para agradecer todos os contributos, bem como o esforço dos autores e dos revisores para responder nos prazos solicitados) e cada fascículo representa de alguma forma o fluxo de textos submetidos para publicação. Os conteúdos deste fascículo não poderiam afastar-se desta linha habitual, com contributos das diversas áreas científicas, submetidos espontaneamente pelos seus autores. Ainda assim, foi possível reunir um conjunto de itens específicos e selecionar alguns textos com alguma ligação à Tabela Periódica e às comemorações do Ano Internacional.

Para imagem de capa escolhi uma fotografia da nebulosa do Caranguejo, disponibilizada pela Agência Espacial Europeia. A nebulosa do Caranguejo é o remanescente de uma supernova – a explosão de uma estrela massiva – observada por astrónomos chineses há 960 anos e remete para a nucleossíntese: são estas explosões cósmicas as responsáveis pela formação de muitos dos elementos de maior número atómico da Tabela Periódica. Além deste Editorial, as secções Notícias e Agenda foram também facilmente orientadas para o tema. A secção de Biografia foi oportunamente preenchida com uma nota histórica sobre Mendeleiev e o desenvolvimento da Tabela Periódica. E por fim, para a secção Imagem em destaque escolhi a fotografia vencedora do concurso Química em Flash, realizado pela Universidade de Aveiro no âmbito das comemorações do Ano Internacional da Química (2015). Pelo meio, nos artigos selecionados, o leitor poderá ainda encontrar ouro, estanho, európio… neutrões a discriminar átomos e átomos a colorir as noites festivas.