No dia em que escrevo este editorial (5 de Fevereiro) espreito o computador e vejo, no Our World in Data (https://ourworldindata.org), que Israel já vacinou mais de 60% das pessoas. Para um país com uma população semelhante à portuguesa, não é coisa pouca. Também os EUA e o Reino Unido vacinam a bom ritmo.

Se nos lembrarmos que esta pandemia surgiu há pouco mais de um ano, e que daí para cá foi possível obter uma vacina e começar a utilizá-la, não podemos deixar de nos espantar com o génio humano. Como diria o velho W. Churchill, never was so much owed by so many to so few.

A vacina da Pfizer/BioNTech, baseada na introdução de RNAm em células humanas, faz de nós organismos geneticamente modificados (OGMs). Ainda há bem pouco tempo ouvir falar-se de OGMs era algo que deixava os governos europeus à beira de um ataque de pânico. Nada como a dura realidade para nos trazer de volta à racionalidade. Esperemos que não seja necessária uma catástrofe na produção de alimentos para que, também nas plantas, os OGMs possam ser aceites na Europa.

A pandemia mostrou a importância da ciência e da medicina. Onde estão os defensores do movimento anti-vacina? É possível curar a Covid com duas infusões, ventosas e reflexologia? Há filas de ambulâncias nas clínicas de medicina alternativa? Tudo indica que não. Se provas fossem necessárias de que a população confia na ciência bastaria atentarmos em mais um milagre, também ele português: o da adesão à vacinação. A necessidade aguça o engenho e todos os argumentos são válidos para dar uma pica no marido, pasteleiro, autarca ou transeunte que vagueie perto de um lar.

Indiferente ao confinamento, a ciência avança. E a RCE também. Este é o 29º número de um projeto que caminha para o 8º ano. No seu objetivo de divulgar a ciência, nele podemos encontrar temas como uma biografia de F. Crick, os solitões, as novas definições do SI e, para os mais esquecidos, o velho “máximo divisor comum”. Visitas à Nova Escócia ou por minas do nosso país estão incluídas, com bilhete grátis.

A importância da planária como um sistema modelo para o estudo da regeneração, a relevância das coleções biológicas, bem como o uso das algas na alimentação são outros temas abordados. No Ano Internacional dos Frutos e Legumes (http://www.fao. org/webcast/home/en/item/5444/icode/) vem a propósito um artigo sobre as camarinhas, pérolas à beira-mar, e outro sobre... os frutos. Embora sem frutificar, a árvore que vagueia pela mata (do Bussaco), observada na perspetiva de um arquiteto paisagista e de um biólogo, impressiona pela sua forma e estoicismo.

No fim, o princípio. A capa. Criada pela empresa americana Uhomate, é um ananás havaiano, à luz das cores de Van Gogh. Arte, ciência e comida, uma combinação perfeita para um ano que se deseja de regresso ao passado.

Leiam. Como se diz por aí, ler é o melhor remédio.