Novembro de 2022: “no próximo ano haverá cerca de 1.500 estagiários, entre finalistas de licenciaturas em Ensino Básico e de mestrados em ensino” (Ministro da Educação João Costa à Agência Lusa). Em setembro de 2023 seriam portanto necessários 500 a 750 Professores Cooperantes para a missão de os orientar. E eles responderam positivamente, apesar de tudo… A pergunta que se impõem: vale a pena ser Professor Cooperante?

Num contexto de crescente necessidade de Professores Cooperantes, aqui ficam alguns dados/ reflexões:

(i) a falta de docentes evidenciada ao longo dos últimos anos tem como solução a chegada de novos docentes ao Ensino Básico/Secundário. Para “melhorar a atratividade da carreira docente estão previstas medidas de valorização salarial, progressão na carreira, remuneração dos estágios e reconhecimento do trabalho do Professor Cooperante na sua carga letiva” (Ministro João Costa). Entretanto, continua a ser importante haver, e há de facto, Professores Cooperantes nas Escolas que desempenham a sua missão de forma altruísta;

(ii) o número de alunos a concluir graus académicos conducentes à carreira de Professor tem aumentado devido, exatamente, a reconhecerem o nicho de oportunidade que se foi criando ao longo das últimas décadas neste mercado de trabalho. Dadas as incertezas do mundo atual, a aposta na profissão ganha novo impulso com a chegada de novas gerações. Estamos preparados para a sua chegada?;

(iii) “o papel do Professor Cooperante como elemento fundamental da supervisão pedagógica na formação inicial de professores assume-se numa perspetiva de trabalho colaborativo como suporte do processo” (Rodrigues et al., 2016). O resultado prático destas interações no âmbito da indução a uma profissão são experiências de aprendizagem mútua. E aqui se inicia a lista de privilégios que não estão previstas em documentos legais, mas reportada em alguns estudos (inter)nacionais: o prazer de ensinar a profissão a “puras esponjas” ávidas de saber e orientação. Em troca recebe-se parte da energia vital que os move e nos contamina com ideias, intenções e projetos (e.g., Ganser, 1996; Ingerson et al., 2011);

(iv) pedagogicamente, as funções do professor cooperante incluem: informar, questionar, sugerir, encorajar e avaliar no sentido formativo (Vieira, 1993 in Lopes, 2019). Dados recentes indicam que os Professores Cooperantes consideram ter perfil adequado à função (Leite et al., 2023), revelando, no entanto, a necessidade de construção de uma relação mais sólida com as Instituições de Ensino Superior;

(v) o papel do Professor Cooperante reveste-se de extrema importância na lógica de uma engrenagem composta por três peças (a tríade referida por Hart, 2020, ilustrada na FIGURA 1). Faltando uma, simplesmente não funciona. São necessários mais e mais Professores Cooperantes para a tal missão do verbo “ajudar” (sensu Alarcão e Tavares, 2007) no último ano de formação dedicado a socialização profissional e construção de identidades (Albuquerque, 2007);

(vi) se nos focarmos apenas nas regalias práticas, pode eventualmente não compensar. Os professores cooperantes persistem por dedicação, para criar legado, transmitindo algo que não tem preço quantificável: a sua experiência de anos/décadas;

(vii) propostas alternativas de benefício, outorgadas pelas Instituições de Ensino Superior podem ser uma realidade. Entre elas, pode incluir-se conferir aos Professores Cooperantes redução de propinas para formação pós-graduada ou acesso livre a biblioteca/cantinas/informação digital;

(viii) testemunhos reais: “Com a supervisão de estágios, esperam dar e receber formação (…) num processo de construção comum de conhecimentos. (…) Referem mais vezes a sua própria aprendizagem que a dos estagiários.” (in Guedes et al., 2011)


FIGURA 1. Representação da visão integradora do papel de cada interveniente da tríade Professor-Cooperante, Estudante/Futuro Docente, Professor do Ensino Superior. Note-se ainda a presença de alguns intervenientes “satélite” que garantem o funcionamento da engrenagem.

Estas são as regras do jogo. Jogamos?

Como nota final, gostaria de agradecer aos orientadores e mentores que dedicaram longas horas durante o meu percurso. Valeu bem a pena!

Desejo a todos um excelente ano letivo de 2023/24, com o sucesso dos vossos alunos e com a concretização, há muito esperada, das espectativas de valorização profissional que todos merecem.